A fuga dos ETs
Há pelo menos dez anos, não era muito raro surgir uma daquelas fotos que garantiam a existência de alguma companhia aos terráqueos no universo. Alguém, de absurda sorte, conseguia estar no lugar certo, na hora certa e, mais, carregando alguma máquina fotográfica capaz de registrar os mais inimagináveis UFOs e alienígenas que freqüentavam nosso planeta. A imagem, após infindáveis e rigorosos procedimentos, realizados pelos mais sérios especialistas, era considerada incontestavelmente verdadeira e capaz de lançar suspense em toda a humanidade.
Na maioria das vezes a fotografia ou filmagem, nos casos de ainda mais estupenda fortuna, era acompanhada de um maravilhoso relato que muito esclarecia sobre as intenções de nossos visitantes. As pessoas testemunhavam não apenas as aparições das naves, como também entravam em contato com os alienígenas e, com freqüência acima da desejada, ao menos para os abduzidos, eram encaminhados para os mais longínquos planos dos espaço sideral e submetidas às mais torturantes experiências. Prova inegável dos inescrupulosos, se não maléficos, interesses dos ETs. Para a tristeza de seus familiares, muitos dos assíduos freqüentadores das naves alienígenas acabavam, após algum tempo, desaparecendo definitivamente da face da Terra – deve-se destacar o sentido literal da expressão usada – e deixavam para trás um sem número de perguntas irrespondíveis que prosseguem assombrando nossa civilização.
Mas, de algum tempo para cá, da mesma forma repentina e mal-educada que vieram, os alienígenas desapareceram. Sumiram e não deixaram, sequer, um bilhetinho de despedida dando suas razões ou, quem sabe, algum aviso do tipo “Deu pane na nave mãe, volto quando o módulo de viagem-luz estiver consertado”.
Uma pena, pois justo agora, com todo o avanço da tecnologia da informação, nossos contatos seriam infinitamente mais interessantes. Temos câmeras digitais super potentes, muitas vezes embutidas em nossos celulares, espalhadas por todos os lados, o que nos permitiria fotos muito elucidativas dos discos-voadores. Aliás, a onipresença das câmeras combinada com a ausência de registro, é prova mais cabal da fuga dos ETs. Nem mesmo o Google Earth foi capaz de capturar algum disco confortavelmente pousado nas cercanias de São Tomé das Letras ou Varginha, notórios refúgios dos extraterrestres.
Mas vamos mais longe, pois além do avanço no registro das imagens, ainda evoluímos muito na sua disseminação. Bastaria uma única fotografia digital e a Internet se encarregaria de repassar para o resto do planeta a figurinha do ET, sorridente e dando tchauzinho para a câmera. Se conseguíssemos ainda um filme, maravilha seria, logo colocaríamos no YouTube e o planeta inteiro poderia dividir a intimidade do alien, quem sabe até flagrado em alguma cena comprometedora.
A verdade é que, se associarmos o desaparecimento dos ETs com nosso desenvolvimento tecnológico chegamos a uma conclusão que há muito já era inegável. Os alienígenas são extremamente tímidos. Só dessa forma poderíamos explicar a exigüidade dos anteriores registros, sua preferência por lugares pouco freqüentados, não habitados e pelo período noturno. Ora, pensando assim, fomos nós que acabamos por assustar os pobres alienígenas. Exatamente quando estavam tomando mais confiança e aparecendo com mais freqüência, inventamos os mais diversos aparelhos digitais e eles, já prevendo os escandalosos paparazzi modernos, refugiaram-se para bem longe de nosso planeta, fora do alcance das lentes inconvenientes.
Lógico que essa, apesar de mais provável, é apenas uma das possíveis explicações para o desaparecimento súbito dos aliens. Podemos pensar também que eles não foram embora, mas nós que, por termos perdido algo de nossa percepção, não estamos mais conseguindo enxergar seus sutis sinais. Como aquela história sobre os adultos deixarem de enxergar as fadas quando crescem. Talvez o mundo tenha ficado muito complicado nesse início de século e nós, muito ocupados, não podemos mais perder tempo olhando para o céu durante a noite, procurando alguma daquelas luzes multicoloridas, esperando de lá a resposta do que não temos aqui. Afinal, temos tanto por resolver! Nossa vida, o terrorismo, o conflito árabe-israelense, a desigualdade social, o aquecimento global e, de quebra, ainda há aquela pilha de e-mails para acessar, filmes do para assistir e livros para ler. Realmente, os ETs que nos perdoem, mas precisamos dar um pouco de tempo para a humanidade. Sem isso, afinal, nunca vamos conseguir empreender aquela maravilhosa viagem para Marte.
Contudo, ainda prefiro uma explicação mais simples. Os alienígenas, depois de todas os contatos de vários graus, estudos, experiências, seqüestros, desistiram dos terráqueos. Chegaram, finalmente, a conclusão que os humanos são mesmo insignificantes como parecem ser. Uma raça que não sabe de nada, montada em cima de um planeta que não passa de poeira cósmica. Diante dessa constatação, eles, alienígenas aborrecidíssimos que são, fruto de um processo evolutivo altamente seletivo, não perceberam o universo de possibilidades que talvez ainda haja para nosso planta e foram embora. Deixaram-nos, mais uma vez, sozinhos no universo, em total desalento. Talvez, um dia, ainda vamos até eles para cobrar todas as explicações que merecemos.