E a Carruagem virou abóbora.
E a Carruagem virou abóbora.
Estou querendo já há tempos falar de um momento especial existente em nossas vidas, independente de que sejamos homens ou mulheres, jovens ou adultos; um momento tão colorido que eu só poderia dar a este momento de que agora falo, tal o ofuscante brilho que ele possui, o nome de “momento Cinderela”.
É este um momento em que tudo se torna colorido, como se de repente nos tornássemos príncipes e princesas, astros principais de uma mega-produção feita especialmente para nós. Neste momento só nosso tudo se encaixa perfeitamente: não sentimos aquele atordoante Vazio, as nossas antigas dores são esquecidas, passamos a viver em um outro mundo completamente diferente daquele que vivíamos até então. Somos, enfim, como príncipes e princesas a bordo de nossa carruagem mágica, os seres melhores da Criação.
Quando estamos envolvidos num caso de amor, aí então é que este momento se torna ainda mais marcante: é como se todos os sinos das igrejas tocassem para nós, como se vivêssemos numa redoma de puro encantamento, algo acima dos anseios e possibilidades de meros humanos, como se fosse uma sensação só conhecida de semideuses.
Todavia, como felicidade ê algo insuportavel para a espécie humana, tudo transcorre às mil maravilhas até chegar a hora da meia-noite, a fatídica hora em que a nossa linda carruagem dourada vira abóbora e nós temos de deixar as vestes ocasionais de semideuses e retornar a vida cotidiana aqui no planeta Terra, de novo com as nossas atribuições de gatos e gatas borralheiras.
Chega então, para nós, após a ressaca do esfuziante “momento Cinderela”, a torturante espera de que o nosso par, aquele alguém que viveu conosco as lindas horas de nosso “momento Cinderela” venha nos procurar, trazendo em suas mãos o sapatinho perdido que comprova que nós somos o ser escolhido dos deuses, que nos provará enfim que o nosso “momento Cinderela” não foi apenas um sonho bom; que podemos acreditar que o amor realmente existe, apesar de nossa carruagem ter virado abóbora diante de nossos olhos assustados.
Sobreviver aos nossos “momentos Cinderela”, mesmo na eventualidade de não sermos procurados por ninguém no dia seguinte com o mágico sapatinho na mão, é a grande sacada desta nossa vida matusquela, a maior parte do tempo morna, como se fosse feita de papel de embrulho, aquele tipo de papel bem ordinário: sempre estarmos prontos para perceber quando a nossa abóbora se ilumina e transforma-se em carruagem para nos transportar, outra vez, ao melhor da festa de nosso viver, o interlúdio que faz esta vida insossa valer realmente a pena - o nosso “momento Cinderela”.
Cidade dos Sonhos, noite de uma Sexta-Feira de meados de Junho de 2010 em que precisei ficar sozinho diante do Espelho para analisar meus muitos “momentos Cinderela”.
João Bosco