Mais uma dessas receitas
Viver. [do lati. Vivere] verbo intransitivo, transitivo direto ou indireto? Quem se importa além de gramáticos e professores de língua portuguesa, por vezes excessivamente normativos? É um verbo intransitivo-transitivo complicado! Embora nem de longe desconhecido, uma vez é constante objeto de músicas, poesias, livros de auto-ajuda e toda sorte de “receitas”. Já que é desse jeito, porque eu não poderia aqui divulgar a minha?! Então lá vai:
Prepare-se para viver: matricule-se em cursos, escolas, faculdades; escute os profissionais, os mais velhos, os amigos, o irmão, a previsão do tempo; faça planos, projeções, sonhe, almeje. MAS, desculpe-se, admita que errou, que não estudou ou se dedicou o suficiente. Sem dó ou dor, só para testar convicções e repensar estratégias. Lance mão sempre do “plano B” (mesmo que ainda não tenha propriamente um), quase nada transcorre exatamente da forma que esperávamos, por isso é fundamental improvisar! Você também pode considerar a boa sorte ou o azar circunstancial... Que mania cartesiana e mecanicista é essa de querer explicar tudo pela porra da razão?!
Trabalhe e dedique-se com afinco e paixão. Dê o melhor de si em seus projetos e boas ambições para que você se destaque positivamente entre seus pares. MAS perceba que por vezes você precisa parar um pouquinho. Parar a prova, o texto, as metas do banco, as aulas de História. Ir ao banheiro, respirar profundamente, lavar o rosto. Se conseguir mais tempo, ótimo! Ande um pouco desavisadamente pela rua – “borboleteando” – dois tragos, três doses (ou mais, afinal que mal há em ser um pouco “Baudeleriano” de vez em quando?!). Ouvidos atentos ao que se fala de forma absolutamente cortada: “-tudo de bom para você também”; “-graças a Deus que ele melhorou”; “-para tudo tem jeito”. Se resolver decretar feriado num “dia daqueles”, melhor ainda! Saguões de aeroportos ou rodoviárias são ótimos para ouvir e esbarrar com sentimentos como amor, saudades e bons votos reverberando pelos ares, isso pode te fortalecer e te deixar com a boa – e verdadeira – impressão que nem tudo está perdido. Pisque os faróis, buzine ou acene para as crianças; não olhe com aquele olhar de certa indiferença, descaso ou sarcasmo para o casal apaixonado na sua frente da fila do cinema; não seja cruel, covarde ou tire as esperanças de uma pessoa, em determinados momentos acreditar é só o que resta para muitos.
Arrisque-se. Aprenda outro idioma; a tocar um instrumento musical que no segundo mês de aulas ainda parece indomável; vista uma roupa ou uma cor que para você poderia ser pensada como nada usual; chame o garoto(a) para dançar, não por ele(a), mas por você...e quem sabe ainda não irá dar certo? Exponha que ama; que achou muito difícil; que não entendeu afinal aonde se quer chegar com isso. Sinceridade gentil e falta de omissão, no mais das vezes, inútil e prosaica nunca matou ninguém!
Já sei, minha receita pode provocar certa quantidade de dúvidas, dado a falta do pragmatismo e das medidas exatas que geralmente acompanham textos dessa natureza, sendo justamente esta exatidão o que torna possível a repetição de pratos que deram certo por séculos e séculos das senzalas aos genuínos – ou quase – bistrôs e cafès franceses pelo Brasil a fora. Mas, por outro lado, a maioria dos famosos chefs e das quituteiras de mão cheia escondem sempre “aquele segredinho” ao revelarem, depois de muito custo e pedidos, suas receitas. Sendo assim, para compensar a falta de critério e medidas adotadas na minha, irei revelar o tal “segredinho”, pois ela só dará verdadeiramente certo se você adicionar à todos os ingredientes acima mencionados 2 colheres fartas de esperança, 4 largas pitadas de positividade total e 500 ml. ou um até um pouco mais, à gosto, de coragem!
Então: bom apetite... Ou se preferir, saúde!