Velho é seu passado!
Peguei uma foto minha, nela eu estava de boca fechada, mas logo, como num conto louco, a minha imagem falou comigo, perguntando o que havia acontecido. Nada, respondi. Mas ela sabia e insistia, me agarrou pelo pescoço e me sacudia: eu chorava ele chorava, eu ria ele ria. Assim ia indo, como quem vem vindo.
De repente, como num conto inocente, ele, o "eu" da foto, tira do bolso a foto de um velho quase velho, meio carcumido e falante. Pronto, agora eram três "eus" e eu já não sabia quem eu era, quem eu tinha sido ou quem eu seria.
O tempo enlouqueceu, já eram 15 horas da matina e nós três, trancados no quarto, já bebia: um refrigerante, outro vinho, outro cerveja de gente grande. Eis então que apareceu-me uma sopa e um velho velho, só podia ser mais dos eus, saindo de onde não sei, acho que de dentro do vinho, mas ele veio vindo devargarzinho como um ansião que já não sabia mais falar com dentes, calmamente ofereci minha cadeira, um dos eus, digo... Depois, percebendo sua fragilidade, antes que ele fizesse esforço que já não era pra sua idade, peguei sua sopa rala e ofereci. Ele calmamente, mais pela fraqueza que pela calma, levou a mão ao prato de sopa, que mão linda, cheia de caminhos, mozaicos, abismos, achados, perdidos e essas coisas... Todos estavam confortáveis contando e relembrando suas aventuras, alegrias, amarguras enfim: as histórias... E repentinamente deparamos com esse velho velho, quando ele pegou a sopa o silêncio reinava, todos nós abismados, calados, inclusive o velho velho, que como eu disse, pegou calmamente a sopa e logo tacou com prato e tudo na minha cabeça:
_ Velho velho é seu passado, porra!