Retalho de Solidão.
Silêncio! A chuva cai lenta e mansa,
esvaziando a taça da lembrança,
esgotando a alma exaurida de dor e
saudades.
A gota cai suave e fresca enquanto
a lágrima intensa faz crescer a dormente
recordação, impulsionada pelo momento
que de tão esquecido se faz para sempre
lembrado.
O céu em borrasca se assemelha a
alma enlutada de medo,espelho da perda
e da solidão, então requentada.
Reflexo do eu em desalinho/desafeto/
desafio/desespero/(des)esperança.
A taça secou, o vinho findou e eu
fiquei sentada á mesa...
Retalho desbotado de solidão.
Aplausos sem mãos;
circo sem palhaços;
céu sem constelação.
Cristal quebrado;
cacos na escuridão.
Céu sem bruma;
mar sem espuma;
vazio...
... solidão.
O medo cresce/enfraquece a alma
já debalde cansada para lutar/chegar
a algum lugar.
No silêncio a saudade que floresce,
renasce qual Fênix que já se julgava
cinza/pó e lembrança ( ainda que inacabada).
Os dias e noites se confundem,
se embaraçam/embaralham as cartas e dados
da vida, em um tabuleiro de jogos reais que
temos como destino.
As notícias brotam na mídia, mas as dores...
...ah! As dores não saem no jornal. São só nossas/
únicas como fragmentos de alma que não querem/não
podem/ não conseguem ser prisioneirasdo corpo insano/
insone/instável.
Silêncio!
A noite se torna madrugada lenta e passivamente.
O sono restaura o corpo que aprisiona a alma
sedenta e faminta de alçar vôo, indo ao encontro
de si mesma.
Ir ao encontro de sua própria essência que
paira perdida no amplo e infindável universo,
tal qual um frágil e desbotado retalho de solidão,
em meio ao firmamento do ser/viver.
Márcia Barcelos.