O SENADOR QUE ESCOLHEU FICAR NO INFERNO

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Você pode não acreditar, mas esta outra sátira política, foi-me contada por um político daqui da terrinha.  Como já lhes repassei aquela historinha de uma excelência no inferno, sinto-me no dever de contar esta. Mas vou logo explicando que tive de inventar a narrativa, pois a peguei na oralidade e retive na memória apenas a sua essência. Após estas palavras de esclarecimentos vamos aos fatos:

Um Senador resolve consultar seu "caixa dois" no banco e descobre que o saldo está zerado, ou melhor, sumiu. De imediato, veio-lhe um desespero e uma palidez cadavérica; em seguida, uma sensação de ataque cardíaco iminente. Não deu outra, enfartou e morreu.

Como era um político sem grandes pecados, sua alma vai para o céu e bate na porta de entrada. São Pedro atende:

— Bem-vindo ao Paraíso, Senador! Raramente vemos parlamentares por aqui; de modo que não sabemos bem o que fazer com você. Por isso, antes que você entre precisamos resolver esse probleminha.

— Não vejo problema, diz o falecido Senador, é só me deixar entrar.

— É o que eu faria excelência; mas, infelizmente, tenho ordens superiores. Portanto, você deve passar um dia no Inferno e outro, aqui no Paraíso. Só depois, poderá escolher sua morada eterna.

— Não precisa São Pedro, estou resolvido a ficar no Paraíso.

— Como lhe disse, tenho ordens superiores; não adianta insistir, você terá de conhecer o Céu e o Inferno e depois decidir qual deles é o de sua preferência.

Dito isso, São Pedro acompanha o falecido até o elevador que o levaria ao Inferno. Após uma longa descia, abre-se a porta e o Senador, que morreu, se vê no meio de um lindo campo de golfe. Ao fundo do campo está um clube, em cuja varanda, sentados em espreguiçadeiras, estão os falecidos amigos e os falecidos confrades políticos do falecido Senador. Todos em descontraída conversa regada à bebida.

A falecida excelência atravessa o campo e chegando ao clube é cumprimentado e abraçado por todos. Sentado junto aos amigos, relembra os bons tempos em que ficaram ricos à custa da política. Logo chega o Diabo, que o falecido considerou um cara muito amigável, pois passou o tempo todo em conversa com ele e, também, contando piadas "a turma". Eles se divertiram tanto, que o ex-senador acabou esquecendo a hora de ir embora. Foi preciso que o Diabo lhe avisasse. Despede-se com afetivos abraços dos amigos, entra no elevador e sobe. Abre-se outra vez a porta. São Pedro o está aguardando.

— Agora é a vez de visitar o Paraíso. Vem comigo!

O finado Senador passa 24 horas junto a um grupo de almas felizes, algumas brincando de pula-pula ente as nuvens, outras tocando e cantando músicas gospels. O falecido sentiu-se inteiramente deslocado, alienado; aquilo não era para ele. Não via a hora do dia acabar. Quando as primeiras sombras da noite chegaram São Pedro retornou:

— Muito bem! Você passou um dia no Inferno e outro no Paraíso. Agora, pode escolher sua morada eterna.

O falecido coça a cabeça, pensa um pouco e responde:

— O Paraíso é muito bom, São Pedro, mas acho que vou ficar melhor no Inferno.

Então São Pedro leva-o ao elevador e ele desce novamente até o Inferno. Abre-se a porta e a falecida excelência se vê no meio de um enorme terreno baldio cheio de lixo, os amigos com roupas rasgadas e sujas, catando o lixo e colocando-o em sacos pretos. O Diabo aparece ao lado dele e passa o braço pelo ombro do falecido e pasmado Senador. Este, gaguejando, reclama:

— Não estou entendendo seu Diabo... Ontem mesmo eu estive aqui e havia um campo de golfe, um clube, e nos divertimos o tempo todo. Agora só vejo esse terreno cheio de lixo e meus amigos escravos esfarrapados.

O Diabo olha pra ele, sorri e diz:

— Ontem estávamos em campanha, conforme vocês fazem lá na terra. Agora já conseguimos seu voto!

Salve-se quem puder! ®Sérgio.

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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!