MATANDO SAUDADES
MONNERAT: Nunca pensei querido em bater um papo com você nestes termos. O que me salvou foi o dia cheio de sol e pessoas. Mas eu queria mesmo era ficar na cama, virar o rosto pra parede, fechar os olhos e nada pensar, estava tão cansada... Mas a Dona Sebastiana, a proprietária do meu apartamento avisou que viria aqui, e já foi anunciando que viria às duas da tarde, ai Deus, ela é tão gracinha, difícil recusar qualquer coisa a ela. Monnerat ela tem mais de noventa anos, magrinha, caprichosa, chapeuzinho de crochê nos cabelos brancos, uma coisinha pequena e leve, e delicada também, sempre sorridente, anda ligeira e sorrindo. Aí tive que me esforçar e ir comprar umas coisinhas como biscoitinhos salgados e outros doces, variados, bem como três tipos de queijo para um lanchinho com ela. Ela gosta de matar saudade do imóvel que é dela, da rua que era dela e... E ela veio, toda sorridente trazendo um cadeado novo da porta da varanda. E pra lá a levei, botei-a na rede, coisa que ela não esperava, e a tratei com mimos apressados, pois era uma alegria vê-la, mas hoje não era um bom dia; dei-lhe um suco de laranja e busquei os biscoitinhos. Ela “não, não, não precisa...” uma manha dela sabe, e eu já entrei na dela, e faço assim “se a senhora está com pressa então vou arrumar numa sacola e a senhora faz um lanche em casa com sua irmã”; e foi falar e fazer e, rapidamente, arrumei uma sacola e ajudei-a sair da rede e despedir-me na porta.
Nesta noite que passou, custei a dormir. Ouvi ruídos na casa e conversava com você “Monnerat se você quiser pegar na minha mão eu não me importo, viu? Pode ficar à vontade se aqui lhe apetecer...” Você agora sabe mistérios que nós outros não sabemos. Sabe meu amigo aquele seu riso tão bom animando nosso almoço e aquele eterno copo na mão...
Telefonei pra sua mulher oferecendo qualquer forma de auxílio que ela e as crianças precisem, podem contar comigo e com toda nossa turma de colegas, você sabe que é querido de todos... Ai Monnerat, e nossos almoços mensais, querido, e agora?
Sabe? Lembrar sua risada boa, seu eterno bom humor, sabe que fico pensando que você, quando menino, você foi um menino louro e lindíssimo... Acertei? Lindo!
Sabe querido, que entrei pro Recanto das Letras e estou escrevendo crônicas lá, quase que diariamente. Menino está sendo lindo, estou adorando, acho que encontrei um lugar parecido comigo. E estou aprendendo tanto lá... Tudo lá é aprendizagem e leio os textos dos outros também. Bom demais. Não te falei que estava com vontade de escrever um livro? Pois é, meus filhos estão gostando da idéia também.
Você acha que esse nosso papo poderia ser uma crônica? Nossos colegas estão num silêncio só. Tadinhos. Entendo. Saudades também.
Agora a minha crônica teria outro título: “A MORTE É DEFINITIVA”.
Tempo passou:
a b g y z a b g y z a b g y z a b g y z a b g y z a b g y z
16/06/2010: Monnerat, você acha que esse nosso papo poderia ser uma crônica? Você sempre tinha todas as respostas. Sabe bateu vontade de falar com você, de te contar coisas./ Ontem foi o primeiro jogo do Brasil na Copa Mundial e eu queria tanto ver o jogo com o povo, em telão de rua. Estava já resolvida a ver em casa, sozinha mesmo, por poucas alternativas. Gabriel me chamou para ir com ele e Elisa, que iam para um restaurante em Santa Tereza, com tela pequena e com uma turma de amigos da namorada que só falam em doutorado e não atentam para o jogo, tira a graça de tudo. Ele mesmo me sugeriu ir com a Gu lá na Barra em telão. Já estava em cima da hora e ela me telefona incentivando, pois lá ia ser mais alegre, junto do povo no Shopping RIO2./Saí correndo, tomei um taxi e cheguei a tempo. O jogo decepcionou, Brasil venceu e não mostrou o seu talento. Foi um tormento, mas a cerveja e as companhias valeram./ Voltei no dia seguinte, mas com um engarrafamento tremendo. Antes de sair, minha filha prepara um café pra mim, sentamos a mesa e diz: _” Mãe, resolvi comemorar meu aniversário aqui”. Aprovei, satisfeita. E passei a falar de alguma coisa do meu interesse que o taxi já estava chegando. Ela me olhou triste e condenando: “_Mãe, você não tem jeito! A gente começa a falar uma coisa e você muda pra outra coisa do seu interesse e não liga para o que a gente fala.”
A gente significa “os filhos”.
Não tínhamos mais tempo para nos entender, ou eu perdia o taxi.
Desceu uma tristeza tão grande, que perdura até agora já onze da noite. E o dia foi consumido assim.
Monnerat, na crônica estou indo bem e já escrevi até um livro e escrevo cada vez melhor. Encontrei um caminho bom. Que me dá muita alegria. Os nossos colegas da ENE também agem parecidos como meus filhos, ignoram o que escrevo. Nenhum deles me lê. Dias como hoje não escrevo, sabe, não há o que dizer, nem pra quem.
Querido, você nunca sairá da minha lembrança. Vou tentar dormir.
Amanhã será um novo dia. Que Deus nos proteja a todos
MONNERAT: Nunca pensei querido em bater um papo com você nestes termos. O que me salvou foi o dia cheio de sol e pessoas. Mas eu queria mesmo era ficar na cama, virar o rosto pra parede, fechar os olhos e nada pensar, estava tão cansada... Mas a Dona Sebastiana, a proprietária do meu apartamento avisou que viria aqui, e já foi anunciando que viria às duas da tarde, ai Deus, ela é tão gracinha, difícil recusar qualquer coisa a ela. Monnerat ela tem mais de noventa anos, magrinha, caprichosa, chapeuzinho de crochê nos cabelos brancos, uma coisinha pequena e leve, e delicada também, sempre sorridente, anda ligeira e sorrindo. Aí tive que me esforçar e ir comprar umas coisinhas como biscoitinhos salgados e outros doces, variados, bem como três tipos de queijo para um lanchinho com ela. Ela gosta de matar saudade do imóvel que é dela, da rua que era dela e... E ela veio, toda sorridente trazendo um cadeado novo da porta da varanda. E pra lá a levei, botei-a na rede, coisa que ela não esperava, e a tratei com mimos apressados, pois era uma alegria vê-la, mas hoje não era um bom dia; dei-lhe um suco de laranja e busquei os biscoitinhos. Ela “não, não, não precisa...” uma manha dela sabe, e eu já entrei na dela, e faço assim “se a senhora está com pressa então vou arrumar numa sacola e a senhora faz um lanche em casa com sua irmã”; e foi falar e fazer e, rapidamente, arrumei uma sacola e ajudei-a sair da rede e despedir-me na porta.
Nesta noite que passou, custei a dormir. Ouvi ruídos na casa e conversava com você “Monnerat se você quiser pegar na minha mão eu não me importo, viu? Pode ficar à vontade se aqui lhe apetecer...” Você agora sabe mistérios que nós outros não sabemos. Sabe meu amigo aquele seu riso tão bom animando nosso almoço e aquele eterno copo na mão...
Telefonei pra sua mulher oferecendo qualquer forma de auxílio que ela e as crianças precisem, podem contar comigo e com toda nossa turma de colegas, você sabe que é querido de todos... Ai Monnerat, e nossos almoços mensais, querido, e agora?
Sabe? Lembrar sua risada boa, seu eterno bom humor, sabe que fico pensando que você, quando menino, você foi um menino louro e lindíssimo... Acertei? Lindo!
Sabe querido, que entrei pro Recanto das Letras e estou escrevendo crônicas lá, quase que diariamente. Menino está sendo lindo, estou adorando, acho que encontrei um lugar parecido comigo. E estou aprendendo tanto lá... Tudo lá é aprendizagem e leio os textos dos outros também. Bom demais. Não te falei que estava com vontade de escrever um livro? Pois é, meus filhos estão gostando da idéia também.
Você acha que esse nosso papo poderia ser uma crônica? Nossos colegas estão num silêncio só. Tadinhos. Entendo. Saudades também.
Agora a minha crônica teria outro título: “A MORTE É DEFINITIVA”.
Tempo passou:
a b g y z a b g y z a b g y z a b g y z a b g y z a b g y z
16/06/2010: Monnerat, você acha que esse nosso papo poderia ser uma crônica? Você sempre tinha todas as respostas. Sabe bateu vontade de falar com você, de te contar coisas./ Ontem foi o primeiro jogo do Brasil na Copa Mundial e eu queria tanto ver o jogo com o povo, em telão de rua. Estava já resolvida a ver em casa, sozinha mesmo, por poucas alternativas. Gabriel me chamou para ir com ele e Elisa, que iam para um restaurante em Santa Tereza, com tela pequena e com uma turma de amigos da namorada que só falam em doutorado e não atentam para o jogo, tira a graça de tudo. Ele mesmo me sugeriu ir com a Gu lá na Barra em telão. Já estava em cima da hora e ela me telefona incentivando, pois lá ia ser mais alegre, junto do povo no Shopping RIO2./Saí correndo, tomei um taxi e cheguei a tempo. O jogo decepcionou, Brasil venceu e não mostrou o seu talento. Foi um tormento, mas a cerveja e as companhias valeram./ Voltei no dia seguinte, mas com um engarrafamento tremendo. Antes de sair, minha filha prepara um café pra mim, sentamos a mesa e diz: _” Mãe, resolvi comemorar meu aniversário aqui”. Aprovei, satisfeita. E passei a falar de alguma coisa do meu interesse que o taxi já estava chegando. Ela me olhou triste e condenando: “_Mãe, você não tem jeito! A gente começa a falar uma coisa e você muda pra outra coisa do seu interesse e não liga para o que a gente fala.”
A gente significa “os filhos”.
Não tínhamos mais tempo para nos entender, ou eu perdia o taxi.
Desceu uma tristeza tão grande, que perdura até agora já onze da noite. E o dia foi consumido assim.
Monnerat, na crônica estou indo bem e já escrevi até um livro e escrevo cada vez melhor. Encontrei um caminho bom. Que me dá muita alegria. Os nossos colegas da ENE também agem parecidos como meus filhos, ignoram o que escrevo. Nenhum deles me lê. Dias como hoje não escrevo, sabe, não há o que dizer, nem pra quem.
Querido, você nunca sairá da minha lembrança. Vou tentar dormir.
Amanhã será um novo dia. Que Deus nos proteja a todos