...CHAMADAS DE LONGA DISTÂNCIA...
Ela está tão longe que sua existência quase chega a ser irreal. Compromissos e um futuro profissional promissor a levaram para outro país, desde então é só chuva que ela derrama. Da comida sem excesso de sabor às condições de trabalho que ela encontra por lá, tudo é motivo de lembranças que ela sabe que não vai mais precisar. Ela é bonita, disse que já a confundiram com uma prostituta e que recebeu uma boa oferta pelo aluguel do seu corpo, mas que isso não passa pela sua cabeça. Ela olha para cima e sente falta do azul e do sol, acha engraçado o fato de comemorarem quando não chove, e apesar da cerveja quente, ela sabe que esses dias são muito mais brilhantes e sorri junto como se tudo isso fosse natural para ela também. Ela quer sua família, suas músicas e livros e também seus amores de volta, mas não abre mão do sonho sendo realizado. A solidão é forte quando o vento bate de frente, e essa imagem é frequente nos seus suaves pesadelos, quando sempre se abriga em cabines telefônicas vermelhas. A distância que separa sua voz da minha orelha é muito menor do que a distância entre nossas conquistas, mas nada disso impede que sejamos assim, tão próximos. A saudade, mesmo nunca sendo proclamada, é palavra frequente quando precisamos de um abraço verdadeiro, ou de um sorriso espontâneo antes das luzes se apagarem.