Copa do Mundo - Diário de um torcedor (VII) - O Brasil venceu, mas avançou claudicando...

Copa do Mundo - Diário de um torcedor (VII) - O Brasil venceu, mas avançou claudicando...

Em 16.06.2010 - Entrando em minha rua, meia hora antes da estreia da seleção canarinho na Copa, pensava encontrar meu filho e sair em busca do modelo de corneta que ele queria. Mas, o encontrei na companhia dos amiguinhos, vibrando com uma novidade: haviam desmontado uma buzina e descoberto com fazer uma igual, usando material descartável obtido nas indústrias de confecção de roupas do bairro, um balão e, uma liguinha de borracha. Ri bastante e, disse a eles que deviam colocar o processo resultante da quebra de patente no You Tube, para tudo mundo copiar.

Na hora da partida, começou pela vizinhança um intenso foguetório. As cadelas vieram se abrigar perto de mim. Pandinha, que já está na sua terceira Copa do Mundo, deitou-se ao lado do sofá, em silêncio e amofinada. Pandora, entretanto, que tinha a experiência, estava trêmula e desesperada, se abrigando entre minhas pernas.

Começou a transmissão televisiva e, deu pra notar logo que o estádio estava apenas com um bom público.

Dentro do vestiário, as câmeras mostravam os jogadores das duas seleções, perfilados, sendo revistados pelos juízes. De vez em quando, um olhar de um jogador da seleção vizinha mostrava o temor, diante dos antagonistas*.

A seleção entrou em campo com o uniforme principal, levando no peito o brasão da CBF (o respeitado escudo cercando a cruz de malta branca, sobreposta sobre uma cruz vazada, encimado por 5 estrelas). A escalação era a esperada. Parecia tudo certo.

No primeiro tempo, o time mostrava volume de jogo. Todavia, em vez de pressionar o jogo e encostar a fraca Coreia do Norte em seu campo de defesa, para impor-lhe o gol, prefiriu um jogo leve, mas sem objetivo, com a turma ciscando pelo campo de ataque. Destaque apenas para Maicon, Elano e, Robinho - que, assumiu com naturalidade sua ascendência sobre os colegas, buscou jogo e, ajudou a desarmar os ataques dos coreanos do norte.

Quando a seleção voltou para o segundo tempo de jogo, os primeiros movimentos indicavam que os jogadores haviam levado a esperada "dura" do técnico nos vestiários, mas ainda assim, mostrava um futebol flácido, a despeito do empenho de Juan, Maicon, Robinho, Elano, Gilberto Silva e Kaká.

Um detalhe sobre Juan: ele parecia um fantasma, surgindo do nada para desarmar o ataque coreano, a partir da linha de meio campo, o que me fez recordar de um outro jogador que tinha esta característica, que jogava no ataque - Romário, herói da conquista da quarta Copa pelo Brasil, nos Estados Unidos, em 1994.

E vieram os dois gols. O destaque, evidentemente, é para o primeiro, pois Maicon reapresentou ao mundo uma interessante variedade do "gol espírita"**, que foi marcado a partir de um ângulo improvável pelo jogador, em altura quase paralela com a linha lateral, o poste do gol e, o goleiro.

Elano estava para ser substituído, quando marcou o segundo gol - o que indicou claramente o equívoco de sua substituição.

E aí, deram moleza para dos adversários, o que resultou num gol que impõe ao Brasil a obrigação de vencer pelo menos mais um jogo, de quiser continuar na disputa da Copa.

Findo o jogo, fiquei com um sentimento estranho, com a vitória magra do Brasil. Saí à porta da casa para ver se haveria carreata, foguetório e buzinaço. Nada - só algumas crianças passando orgulhosas com a bandeira verde e amarela sobre as costas, e alguns fogos explodindo aqui e ali.

Na vinda para o trabalho, parei na banca de revistas pra dar uma olhada nas manchetes esportivas de hoje. Então, me deparei com uma charge do Jorge Braga na capa do jornal "O Popular", que retrata com uma incrível eficiência e felicidade, em uma única cena, o que levei os onze parágrafos acima para dizer, pois num quadrinho de 12 x 12 cm estavam dispostos um jogador da seleção brasileira e outro da seleção coreana. O brasileiro segurava na altura da cintura o número "2" com um semblante de decepção (se não, vergonha) e, o coreano levantava orgulhoso e sorridente o "1", como se fosse a própria Copa do Mundo!

Pela manhã, o jogo da seleção espanhola e o esquadrão da Suíça.

Segundo o que vinha dizendo a imprensa sobre os espanhóis, os suíços sofreriam uma rude derrota, pois a primeira estava credenciada para, no mínimo, à disputa das finais. Mas, aconteceu o contrário. No meio de um jogo meio sem graça, os suíços acharam um jeito de enfiar um gol na meta da seleção espanhola. E a turma da imprensa saiu em defesa das próprias opiniões, falando em "zebra" - ignorando o que ocorrra em campo...

Mas, já vimos até mesmo a Itália, a atual campeã do mundo fazer um papelão, na estreia. Então...

Ah, sim: a seleção da Costa do Marfim usou um pequeno truque para impressionar em campo: a camiseta colada ao corpo, para destacar o vigor físico de seus atletas. A julgar pelos comentários, funcionou. Por isso, acho que vai virar moda, na próxima Copa.

E são eles que vamos enfrentar, agora. E aí, a conversa é outra. Com os jogadores brasileiros sentindo o drama, creio que estejam pensando agora em jogar com um pouco mais de gana (não é trocadilho!) e responsa...

'Bora pra frente, Brasiiil!!!

* Será que o Mandante (e desmandante) da Coreia do Norte deixou o seu povo assistir à transmissão do jogo? Que coisa incrível...

** Gol "espírita" seria aquele que, em condições normais, não poderia acontecer, mas acabam acontecendo, talvez por intervenção do além. Creio que essa definição é de Nelson Rodrigues, mas não tenho certeza.

Como se sabe, ele escrevia magníficas crônicas sobre futebol e partidas futebolísticas. Entretanto, ele tinha um problema terrível de visão, que, diziam, o impedia de enxergar bem. Assim, muita gente do ramo conclui que as suas narrativas e comentários sobre o jogo e jogadas vinham do que ele ouvia dos torcedores próximos a ele, nos estádios!

Às 17h:35min. Depois de vencer a França, a seleção uruguaia continua dando exemplo às grandes. A despeito dos limites e jogando com garra, respeitando a si e à seleção oponente, impôs o placar de 3 x 0 à apática África do Sul.

Não é assim que se faz?

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Futebol deficiente e equipes armadas para jogar na retranca e, contra-ataque. O resultado é o pior resultado de saldo de gols de todas as copas, até agora!

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Mais uma: a torcida norte-coreana que compareceu ao estádio Ellis Park era... chinesa! Parece piada, mas não é - o comitê de esportes do governo da Coré ia do Norte solicitou ajuda ao comitê de esportes chinês, para arranjar torcedores para sua seleção, na África do Sul. Motivo: os norte-coreanos, empobrecidos como estão, não podem arcar com os custos da viagem. E quando podem, não recebem visto para sair do país. Que coisa, hein?...

Confira, aqui:

http://g.br.esportes.yahoo.com/futebol/copa/noticias/quot-torcida-quot-norte-coreana-em-est-aacute-dio-era-composta--fbintl_efe-br-7736b7dd51cc986526be42a0523cca69.html

Em 17.06.2010, às 10:00h. Registrando que os norte-coreanos só assistiram a partida entre a seleção de seu país e o Brasil um dia depois de ocorrida, numa edição censurada em que a seleção nacional venceu o oponente (sim, acredite!), encerro esta página do Diário...