Crônica Curta 2 – Conselho Imperativo
Pare! Não faça isso... Não destrua; não destrua nada... Apenas olhe para as coisas e as deixe ser; deixe-as crescer. Não se importe com a moda (especialmente com essa, de ser durão), que a moda não se importa com ninguém. Olhe para si, case-se consigo. Você não vê que seus olhos estão longe; estão cativos da estupidez? Veja, veja em redor e além da cortina que lhe embota a compreensão... Tudo, na verdade, é poesia em movimento; tudo é uma canção em forma de planeta e você joga sua luz para o chão duro, homem-poste.
Pare... Por favor... Nenhum movimento – se muito, sente-se, mas devagar. Abra as mãos. Veja as palmas. Como o Cristo, alguma chaga há em cada pessoa. Prepare-se. Derrame pelos olhos fora o reboco, mas o faça lentamente: primeiro, como a infiltração de um gesto, uma umidade em tom de poente que te encharque de humildade. Daí, pelas fissuras, faça descer, em gotas, a confissão de tudo, a admissão, o auto-reconhecimento. Ao jorro, então, seja um segundo: que por seus dedos passe uma cascata do passado; que se derrame pela calçada, enfim, toda a represa de desentendimento que te fez erguer a mão: punho cerrado, olhos em fúria aguda – a primeira linha dessa crônica.
(Caia o último pingo)
Abra os braços, respire e volte a caminhar.