A Lei do Atrito e da Tração

Meu irmão mais velho, posto seja um mouro pra trabalhar, é comediante de nascença. Em humor negro, então, é catedrático.

Dentre o rol de fuleragens e descomposturas à vida alheia que destila quando a gente senta pra beber, tem uma que relembro, rindo só, e que vou contar. Não é tão cruel como de seu costume, nem tão ácida, mas vale pela graça do cientificismo popular que traz em si.

Vamos ao caso:

Diz que, numa usina em quem trabalhou, havia um velhinho, funcionário antigo, muito safo. Esse sujeito, cujo nome não me faz recordar, andava numa moto antiga, pertencente à frota da usina, mas que não se fez renovar porque o sujeito (verdadeiro patrimônio cultural da empresa) tinha enorme apego pela máquina. Chamava-a Lavandeira – acho que porque era uma moto branca. Diz que estavam lá, na usina, todos os funcionários de motos novas, e o velhinho fazendo zoada e fumaça em Lavandeira pelos canaviais afora.

Um dia, porque chovia muito, passaram um rádio pra ele:

– Atento, Seu Fulano!

– Seu Fulano na escuta; prossiga, meu fio!

– Vá até o canavial, e veja se tem condições do caminhão subir a ladeira tal, no setor x...

– Copiado... Copiado, sinhô... Vou pegar “Lavandêlha” e me dirigir ao setor...

– Poooositivo.

Chegando lá, o velhinho viu que a ladeira era um lameiro só; que não dava nem pra Lavandeira subir, quanto mais um caminhão. Fez uma pose de boy sobre o assento da máquina, sacou o rádio de mandou:

– Atendo base; Seu Fulano chamando...

– Na escuta. Prossiga.

– Meu jovi, desloquei com “Lavandêlha” pro setor. A ladeira tá muito lisa, muito lisa; dá não; dá não, meu chefe...

– Muito lisa mesmo? Nem um caminhão descarregado sobe?

– Hômi!, pelas minhas conta, nem um tatu de chuteira sobe essa subida!...

Agora, senhores físicos, taquem uma referência de tração e atrito, em três palavras, melhor que “tatu de chuteira”! Dá não, meu chefe.