Brasil 2 x Koréia 1: Vitória Amarga
 

            Na expectativa de um hexa, o Brasil encarou o time da misteriosa e fechada Koréia do Norte. Sobraram palpites exaltados da torcida antes do jogo exultando por uma goleada ornada em belíssimo show de bola. Somos, provavelmente, o povo mais mal acostumado a belos espetáculos de toda a humanidade terrícola. Culpa das boas seleções e dos diversos craques que nos mimaram tanto.
            Para o brasileiro não basta vencer, mas convencer. Quanto ao primeiro item tivemos êxito. Diante do esperado convencimento ficamos a dever e a vitória por 2 a 1 deixou um gosto amargo de farofa de jiló no canto da boca. Senti como se a bílis subisse pelo esôfago e aos meus gritos de gol faltaram a convicção apaixonante de outras épocas.
            Certo é que com a soma dos anos, e das Copas, vieram-me uma desconfiança calcada sob os calos de muitas decepções e derrotas às quais não se acostuma. Acreditei que a seleção de 78 pudesse desbancar a Argentina na própria casa e vimos um Peru despudorado entregar um jogo por 6 a 0 enquanto 3 bastavam. Era criança, mas perdia a ingenuidade e nascia a noção de cinismo diante de um mundo no qual a frase de Coubertain enverga-se constrita: ¨o importante é competir¨.
            O que importa são os louros da vitória, diga-se de passagem, conseguida, ao que me parece, a qualquer custo, segundo atestaram nossos ¨hermanos¨. A imbatível esquadra de 82, comandada pelo genial Telê, juntamente com Zico, Sócrates e Falcão, deixou-nos uma triste constatação: o futebol arte morreu.
            Tivemos fibra para esperar que aqueles mesmos craques, depois de aprendida a lição, se superassem em 86 e falhamos nas cobranças de pênaltis voltando desolados para casa. Aquela geração merecia melhor sorte e o esquecimento não lhes será leve.
Pulemos a Copa de 90.
            Renascemos para a glória em 94 sob o embalo da fantástica dupla Romário-Bebeto e graças aos deuses do futebol o zen-budismo de Roberto Baggio foi testado ao máximo. Que goze de paz em seu retiro espiritual ¨pós-acopalipse¨.
             A inexplicável derrota em 98 recordou-me o cinismo peruano de 78. Será que fomos comprados ou vendidos? Dormita um mistério que caberá ao futuro solucionar quando um daqueles protagonistas resolver abrir a boca. Que não nos matem de vergonha, de novo, diante do peso de uma explicação que ansiamos obter.
            Vitória, vitória e vitória em 2002 seguida de nova queda em 2006. Ronaldo e Rivaldo nos alegraram e depois o primeiro, já gordo, viu a sua estrela perder o brilho. Diante da Kóreía ficamos com uma pontada de dúvida a emergir dos corações: teremos que esperar 2014? Creio que sim, mas espero estar errado; afinal: sou brasileiro e não desisto nunca!