POR ONDE ELES ANDARÃO? OS MORTOS.

Me escreve o amigo Jorge Sader respondendo email onde falo de seu irmão e minha irmã, mortos.

Resta a energia, diz.

Minha irmã, uma luz onde havia tristeza, inigualável em irreverência e destruidora de normas, convenções onde se despacha a alegria em nome de correções que entristecem reuniões. Todos gostavam dela e se surpreendiam com suas liberalidades, em dizer e encenar histórias.

Espantava qualquer seriedade de conversas formais em festas habituais. O riso era solto e farto, bastava estar presente. Sua chegada já fazia todos esboçarem risos na exclamação; “Chegou Dodora”.

Era o sinal que significava afirmar, chegou a alegria. Era assim, uma festa completa. Tenho tido muita dificudade em não poder desfrutar de sua presença, estar com ela, onde os risos se multiplicavam a cada pergunta ou afirmação que me fazia, sempre envolvendo a graça.

Joãzinho, irmão do Jorge Sader, um moleque que sempre será moleque para mim, embora com poucos anos de diferença, me chamando de apelido carinhoso que ele mesmo criou, esperto dentro de suas dificuldades, independente para minha surpresa já sexagenário e enxergando pouco, vivendo sozinho por vontade própria, com seu cachorro e suas músicas, de que tanto gostava e demandava à cunhada, insistentemente, se de pronto não fosse atendido, esse ou aquele disco, clássicos sempre.

Menininho, ficava a ouvir a mãe tocar clássicos ao piano, sentado perto dos pedais. Tinha extraordinária memória, e ninguém precisava consultar catálogos, conhecia todos os telefones de amigos do pai, da mãe, de familiares, cinemas, tudo que se precisava.

Me pergunta o Jorge Sader: “Celso, por onde eles andarão? A energia não se perde.

A gente fala, fala e acho que nunca passamos nem perto...”

Respondo:

“Pois Deus olha para a conduta de cada um e observa todos os seus passos, não há obscuridade nem trevas onde o iníquo possa esconder-se. Pois não precisa olhar duas vezes para um homem para citá-lo em justiça consigo”. Jô.

E a justiça de Deus os acolhe na amplidão da energia que é paz. A paz dos justos, dos bons, dos alegres e caridosos.

Dodora foi imensamente caridosa e justa, embora forte em temperamento. João foi um caridoso, valor que ressalto gigantemente, mais ainda diante de suas dificuldades. Teve a consciência que muitos sem limitações não têm, foi bondoso para com os que precisavam.

“DEUS É GRANDE DEMAIS PARA QUE O POSSAMOS CONHECER, NÃO PODEMOS ALCANÇAR O TODO-PODEROSO. ELE É EMINENTE EM FORÇA E EQUIDADE, GRANDE NA JUSTIÇA. ELE NÃO OLHA OS QUE SE JULGAM SÁBIOS”. JÔ.

Não tenho dúvidas da calma da eternidade, de sua existência, na paz onde dormem, como costumo afirmar, onde não mais existe doença, sofrimento ou morte.

É ESSE ESPAÇO QUE ELES AGORA HABITAM. Realmente não estamos perto deles...ainda sofremos, e muito...

Não é homenagem para eles, pequena demais para suas passagens luminosas em caridade, é apenas um registro de terapia ocupacional para minha tristeza.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 16/06/2010
Reeditado em 16/06/2010
Código do texto: T2322713
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