O clima de festa era contagiante!
Desde  cedo,as ruas enfeitadas de bandeirolas verde-amarelas,as bandeiras nas janelas,os comes e bebes sendo preparados nas vastas cozinhas coloniais.
Como eram grandes aquelas  cozinhas,sô!Podia-se dançar dentro delas.
Quem não tinha camisetas nas cores do  Brasil, arrumava uma fita,um cinto,uma bijuteria,qualquer coisa que mostrasse sua lealdade à Seleção,chamada carinhosamente de canarinho,e sua adesão à torcida que empurraria o time para a vitória.
Estou falando da lendária copa de 58 onde um rei despontava,  Pelé,o magnífico,primeiro e único!
Não sei  porque, me parece que naquela época os jogadores eram mais autênticos,suavam a camisa para glória do Brasil,sem envolvimentos com suspeitas multinacionais que constelam as suas camisas de hoje.
Nem ganhavam essas fortunas que ganham e que os torna mais cautelosos nos jogos de  seleção, pois,não pertencem mais ao Brasil, nem a si mesmos,pertencem aos clubes miliardários que os compram  e vendem como reles mercadorias.
Imagina uma contusão  séria, uma perna quebrada, um menisco fora do lugar...
Perderiam seu valor de  mercado, carreira comprometida,voltariam cabisbaixos aos times nacionais ou,pior,acabariam talvez, no Uzbequistão,coisa de louco.
Já o Mané  Garrincha, o Vavá,o  Nilton Santos não precisavam se preocupar com isto.
Era coração nas mãos e bola no pé.
E  nós, torcedores fieis e animados, fazíamos balões de três metros que soltávamos nos céus,livres,leves e soltos, soltávamos fogos, vulcões cujas chamas enchiam de brilho e  luz as  noites  frias  de junho.
Depois do jogo a comemoração na casa dos  amigos,a cada casa visitada o cortejo crescia, até chegar na casa de Magalhães,onde um grande rinque de dança nos aguardava,devidamente embandeirado e decorado.
Mesas imensas cheias de  licores, amendoins cozidos e torrados,canjicas amarelinhas e olorosas, bolo de aipim e carimã, pamonhas , mingaus de puba e milho para aquecer o corpo. As laranjas ganhavam laços de fita  verde –amarelo , olhos e boca, fingiam rostos caipiras.
Dançava-se até o sol raiar.
Uma  conhecida, recém chegada  de Paris contava as novidades:
- Meninas, fala-se que Dior está criando um novo  perfume : ”Mon Pelé”.
E aquelas noites fagueiras continuavam até que a Copa terminasse e voltássemos à nossa triste rotina de terceiromundistas.
Mas, durante este curto tempo,éramos reis!
 
 



Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 16/06/2010
Código do texto: T2322657
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