Barra de São Miguel

Nunca fui muito chegado à praia e tenho um medo irracional de tubarão. Mas fui assim mesmo para Alagoas. Hospedei-me num balneário belíssimo de nome Barra de São Miguel. O hotel ficava de frente pro mar. Um mar lindíssimo com tons de turquesa e esmeralda. Ao fundo, arrecifes protegendo a praia da arrebentação violenta (E porque não dos tubarões?). O hotel tinha uma piscina com cascata. Mas resolvemos ir à praia. Pusemos nossa roupa de banho e atravessamos a rua. Éramos um grupo formado por duas senhoras, duas jovens e eu, “bendito o fruto entre as mulheres”. Elas puseram seus apetrechos na areia e eu, só de sunga e sandália de dedo, entreguei o protetor solar para ser guardado na bolsa de uma delas e, descalço caminhei para a água. As duas jovens demoraram um pouco. Fiquei conversando na beira d’água com as duas senhoras enquanto aguardávamos. Quando percebi que as duas voltavam comecei a falar sobre tubarões. Todas prestaram bastante atenção. Eu, por dentro me divertindo por transferir meu medo para elas. Não fiz isso por maldade, mas sim como uma forma de compartilhar meu pavor desse peixe cartilaginoso terrível. Mudamos de assunto. Subimos e descemos na água de temperatura agradabilíssima.

O mar era lindo. A água gostosa. O vento fresco. Havia poucas pessoas presentes além de nós. Confesso que gostei imenso dos arrecifes porque não os tenho aqui no Estado do Rio de Janeiro. Dava graças a Deus por eles, pois eram uma muralha natural contra os monstros carnívoros do mar. As companheiras esbaldavam-se em dois grupos. Eu ficava olhando para o infinito e me intercalava entre as duplas. Divertíamo-nos como crianças quando, de repente, uma das senhoras gritou. “Aí, meu Deus!”. As outras três saíram da água com uma rapidez indescritível. Pareciam personagens de desenho animado andando em cima d’água. Uma delas era alta e de pernas compridas. Era uma aranha na praia. Em segundos estavam todas na areia e eu dentro do mar rindo desbragadamente. O que aconteceu foi o seguinte: uma menina passou nadando com pés de pato e snockel ao lado de uma das senhoras. Ela, influenciada pela conversa que tivemos antes de entrar na água, foi a que gritou e alarmou as outras três fugitivas do mar. Como havia entendido o ocorrido, fiquei calmo e rindo sem parar. Ria tanto que cai de costas. Submergi e levantei gritando “Ele me pegou! Ele me pegou!”. Imediatamente todas voltaram para água esquecendo-se do tubarão. “O que houve?” – perguntaram. Eu respondi que fui atacado no pescoço. Elas disseram que não havia ninguém, nem nada na água, mas que meu pescoço estava muito vermelho como se tivesse sido queimado. Pus a mão nele e senti a pele arder. Olhei ao redor e me vi rodeado por águas-vivas. Foram risadas intermináveis.

Voltamos para o hotel rindo sem parar. Contamos a história do tubarão geléia que só atacava pescoços. E, por precaução, ficamos na piscina o resto do dia, já que não havia comunicação entre ela e o mar. A faixa de areia, as calçadas e a rua impediam qualquer ser marinho numa tentativa de ataque. Estávamos seguros? Meu Deus! A piscina era descoberta. E se uma águia nos arrancasse das águas e nos levasse com alimento para os seus filhotes? Na realidade ninguém está livre dos seus monstros interiores implacáveis.

Oswaldo Eurico Rodrigues
Enviado por Oswaldo Eurico Rodrigues em 16/06/2010
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