Pobres de nós mesmos
Por que insistimos em lembrar? Existem várias respostas cientificistas para essa e tantas outras indagações sobre o ser humano, o que me intriga não é propriamente a parte biológica, mas o efeito que isso provoca em nós. Diariamente nossos sentidos são aguçados por algo que nos faz recordar. Um cheiro, um som, imagem, ou até mesmo um gosto, nos lembra de algum momento. E por alguns instantes paramos no tempo, revivendo aquilo mais uma vez.
É quase um consenso entre os adultos que a melhor parte da vida é a infância. Coisa boa acordar tarde, aquele café da manhã feito pela nossa mãe, saboreado sem presa alguma, depois de comer não é preciso se “arrumar” para sair, afinal crianças não trabalham, brincam, se divertem intensamente, envolvidas pela inocência e o privilégio de ser criança. Por outro lado, a maioria das pessoas quando criança queria ser adulto, pra poder fazer “coisa” de gente grande. Na verdade elas não perceberam que escondemos toda a inveja que sentimos delas, tachando certas chatices da vida adulta, como impróprias para crianças. Realmente, ser adulto é maçante, principalmente nesse mundo, onde o consumismo desenfreado levou as pessoas se tornarem compulsivas, doentes por compras, em busca de um prazer momentâneo e vazio.
Trabalho, carreira, realização pessoal. Tudo isso é importante na vida de qualquer pessoa. No entanto, quantos casos conhecemos, de advogados bem sucedidos, de médicos renomados que afirmam ser infelizes, pois vivem sozinhos, ou melhor, rodeados de bajuladores sem personalidade. Basta voltarmos nossa atenção, para as festas, as baladas, centenas de pessoas bem sucedidas profissionalmente “embretadas” em busca de um par perfeito. Me desculpem os mais fanáticos, no entanto ninguém vai encontrar o grande amor de sua vida em uma “have”. Tudo bem concordo com a idéia que não tem lugar específico para achar a cara metade, mas o estado de espírito e objetivos das pessoas que vão a esses lugares não é de se apaixonar e sim de “curtir” a noitada.
Nós adultos somos medíocres, pobres de nós mesmos, deixamos as futilidades mundanas nos dominar, substituímos valores por zeros em nossas contas bancárias, amizades verdadeiras por parcerias baladeiras, encontros por “pegação”, esvaziamos as relações pessoais, nos tornamos miseráveis bem sucedidos.
Rapidamente precisamos nos tornar Peter Pans, puxar nossas angustias para a terra do nunca e voar, voar até encontrar a essência de ser humano, a alegria de estar vivo. Necessitamos de sonhos, eles nos fazem caminhar. A vida é bela, então abra seus olhos.