FRIA E MALVADA
Lêda Torre
Eram cinco horas da manhã. No dia 30 de abril de 2009, tomei o primeiro ônibus no meu bairro, onde moro, o Parque Vitória, com destino ao centro da cidade para o Hospital Dr. Carlos Macieira, hospital público do estado, onde a médica que me assitira um dia antes e me solicitara que viesse fazer uma ultrasom dos rins, devido ter sido detectado infecção renal. E eu, não estava nada legal.
Porém, neste retorno o que quero falar mesmo não é de mim, mas de uma cena que fiz parte mesmo de longe, como observadora. Foi o seguinte: numa manhã nublada e triste, meio fria, neste grande teatro da vida, todo mundo tem seu papel, observei na área externa do hospital, aqueles maqueiros levando um corpo envolto num lençol branco, como se fora um pacote de qualquer coisa, totalmente inerte, morto mesmo.
Basta que já saíra de casa meio melancólica com a chuva, uma chuva sem trégua, que em suas torrentes, parecia mais uma porta do céu que se abrira para nos abençoar, com suas águas cristalinas e fluídas. E apesar da chuva continuar renitentemente a cair, parecia mais ainda esfriar nossas almas...e o tempo parecia que fazia reverência por aquele momento tão dolorido para uma família, a morte, uma velha conhecida minha.
A natureza, também compartilhava com aquela hora fúnebre. O ambiente , e todas as coisas pareciam acinzelar-se entre si; a tristeza pairava no ar, todo mundo que por ali passava, voluntária ou involuntariamente, sentia assim o ar, todos emudeciam diante daquela cena que é corriqueira num hospital, mas na nossa vida não é; as pessoas chegavam naquela manhã, aos poucos para uma emergência, para uma consulta marcada ou para fazer ou receber um exame, sem poder fazer nada para amenizar a dor da perda.
Ficava em nossas mentes, aquela interrogação: quem seria ali, o que terá acontecido par que os médicos nada pudessem fazer, ou será que essa pessoa já sofria há tanto tempo...sua “causa mortis”, com certeza, era desconhecida por nós transeuntes daquela casa de saúde...
Todo esse âmbito, remeteu-me a momentos semelhantes, também de dor, porque passara quando tinha meus catorze anos de idade, numa manhã e hora tão igual, que me levou ao tempo que perdi meu amado pai. E foi ao longo de minha infância e adolescência, que tive a dissaborosa presença da morte na nossa família quando perdi meus avós, por parte tanto de mãe, como de pai, perdi muitos tios irmãos do meu pai, em pouco espaço de tempo, quando nem bem estávamos já consolados por Deus, morria outro ente querido, e tão jovens, ou do coração, ou acidente, ou outra enfermidade mortal tão arrebatadora. Até um lindo sobrinho de apenas dezessete anos, nos deixou de repente para morar com o Senhor, lá no apartamento de cima, cunhados, parentes, conhecidos,amigos, e até alguns alunos, tive a tristeza de perdê-los tão tragicamente, na minha jornada de professora que sou.
Vi aqueles familiares do desconhecido, em prantos compulsivamente desconsolados, pois essas situações não nos deixam indiferentes, não dá pra suportar de forma aleatória ou indiferente a tudo isso. Cenas estas, que estamos fadados a assistir todo dia na vida, e estarmos em estado de alerta, porque quando esta fria e malvada morte chega, ela nos abate, como uma vela acesa apaga tão rapidamente, em segundos, como nada, sem nenhuma significância. E será assim,até a consumação dos séculos. E a fria e malvada morte, continuará a agir indiscriminadamente sem dó, nem medo de errar, até chegar a morte da morte como diz em Apocalipse , não lembro agora o capítulo e o versículo, mas sei que o maior consolo é que em sua palavra, o nosso Deus diz que nós podemos aguardar com ansiedade novos céus e nova terra, onde o pranto se transformará em regozijo, e o consolo, em alegria (Isaías 61.1-3).
__________________São Luis, 30.04.2009_______________________