Jurado de morte
Cidadão pacato, relativamente pacato, hoje em dia não pode haver mansidão.
Trajes simples: calças de brim fino, do tipo bolsos aparentes, camiseta com mangas cinza, sapato mocassim bem leve. Não chamava a atenção de ninguém. Entrou num banco, fez uns pagamentos e saiu sem pressa, com a vontade de beber o chope que gostava: metade do claro, metade do escuro. Nunca tomava um só nem passava de três.
Tirou a caneta elegante e sóbria de dentro da bolsa militar, junto com um caderno de capa de couro, preto. Escreveu por volta de quinze minutos e colocou tudo na bolsa outra vez. Já estava no terceiro chope e o prato de amendoim tinha uns poucos.
Gostava de fazer isso, mas não todos os dias. Conversou alguns minutos com o garçom. Já havia alinhavado uma crônica, vendo as mães com a pirralhada, no grande parque arborizado, em frente ao simpático bar-restaurante.
Os dias de hoje não estão fáceis. Na volta para casa, encontrou um homem sorridente, que se dirigindo a ele falou como quem pede uma bisnaga na padaria.
- Vai manso, filho da puta. Vai devagar ou acabamos com você.
- Não tenho medo de vocês, seus merdas. Tentem.
O braço longo do partido tem pistoleiros conhecidos. Articulista de jornais estrangeiros, socialistas inclusive, sabia que a ameaça não era mentirosa.
O braço armado do partido é perigoso.
Chegando em casa, limpou a Walter P.38, colocou um cartucho e deu um tiro para o alto. Funcionou sem problemas.
Tinha dois carregadores. Daquele dia em diante, não andou sem mais ela.