A Cadeira
Diante dos dois meninos estava uma cadeira, que os fez começar a seguinte conversa:
- Acho que a cadeira é azul.
-Porque você disse isso?
-Estava pensado em como podemos conhecer alguma coisa. E a cadeira me parece azul, isto é, eu sei que ela é azul.
-Mas quando algo parece ser, isso significa que seja desse modo?
-Eu vejo que a cadeira é azul, então sei que ela é azul.
-Interessante. Porque se apagarmos a luz, ela parecerá preta. Então, segundo teu raciocínio, ela será preta. Certo?
-Não sei. Ela é azul se tiver luz e quando não tiver, será preta. Se você vê ela quando não houver luz na sala, então para você ela será preta.
- A cadeira pode ser diferente para nós? Você quer dizer que para você ela é azul e para mim ela é preta?
-Acho que sim.
-E nós dois conhecemos ela?
-Sim...
- Seguindo teu pensamento, posso dizer que a cadeira será preta e azul. Preta pra mim e azul para você, e ainda assim nós dois a conhecemos. Mas então ela será azul e preta, quer dizer, azul e não-azul. Ela será e não será azul.
-Pois é, complicado.
-Além disso, se conhecer é perceber, como você sugeriu, cada um conheceria todas as coisas, à medida que as percebe. Não precisaríamos estar conversando isso, já que você conheceria do seu modo e eu, do meu.
-Pois é, mais complicado ainda.
- Podemos falar ainda duas coisas. A primeira é que o conhecimento não é o mesmo que a percepção. Isto é, se não conseguimos dizer o que o conhecimento é, pelo menos dissemos o que ele não é.
-Legal, acho que avançamos um bocado. Mas e a segunda coisa?
-Acho que é melhor a gente tirar a cadeira de cima da mesa, porque a mamãe poderia não gostar muito.
-É, e isso eu sei mesmo!