Viver, nossa razão de ser
 
      No trabalho, décimo oitavo andar de um prédio próximo a Praça XV, busco construir meu lado profissional. É hora do almoço. E praticamente todos saíram.

      Eu, buscando manter o prazo de duas entregas, permaneço.

      Um silêncio quase que absoluto enche o ambiente.

      Foco minha atenção, na lógica a ser testada. Rotinas prontas. O teste integrado final é o que me separa da solução a ser entregue. Testes unitários mostraram aderência ao especificado.

      Estratégia definida para os testes integrados, construo o ambiente. Planejamento pronto, coordeno sua execução.

      Na vida real, vivemos em um complexo emaranhado de causas e efeitos, onde muitas vezes sequer conhecemos as razões para muitos dos eventos que nos bombardeiam a realidade. O planejamento, por mais que coordenemos sua realização, nunca estará totalmente sobre o nosso controle.

      Viver é estar imerso em uma realidade mutante. O agora deveria nos bastar. O ontem nada mais é. O amanhã, poderá nunca chegar. O agora é tudo o que temos. É impossível dominarmos o agora. Viver e deixar viver. Imprimir ao nosso presente uma real busca ética, pode ser um diferencial de vida.

      Somos animais, mas somos também consciência. Somos desejos, mas somos também amor. Somos o que a genética nos obriga, mas somos também o reflexo do mundo, somos assim também fenótipo. Somos o que nascemos, somos o que o mundo, no seu dia a dia nos tornou, mas somos também o que desejamos ser.

     Normalmente não existe possibilidade de testes, na realidade do dia a dia. Vivemos. Sobrevivemos. Decisões devem ser tomadas a toda hora. Cada uma delas pode ser a diferença entre a vida e a morte, entre o acerto e o erro, entre a vitória e a derrota.

     Decisões mínimas, simples, sem risco nenhum aparente, podem ter a força de alterar profundamente nossas vidas.

      Muitas vezes, ações sem correlação aparente com algum objetivo, podem trazer novas perspectivas. Um sorriso, muitas vezes pode abrir portas.

      A vida é prolixa em nos mostrar que direções são alteradas de repente, sem motivo aparente. Devemos estar preparados para viver. Viver implica em ser resiliente.  Devemos ter elasticidade e plasticidade tal, que nos permita dentro de uma ética consistente, amortecer todos os impactos da vida, e nos utilizarmos da própria força de cada evento para ajustar nossa caminhada no presente momento, e para reforçar esta mesma caminhada.

      Somos frágeis é verdade. Frágeis tanto fisicamente quanto psicologicamente. Mas somos fortes. Fortes na vontade e na capacidade de aprender e crescer como humanos. Somos resilientes, e conseguimos superar todos os infortúnios, nos ajustando a cada nova realidade.

      Viver deve ser a maior razão de ser. Sem destino traçado, sem planos absolutos, viver deve ser a máxima. Viver e ajudar a viver. Somos seres sociais, e nada somos sozinhos. Ser humano é ter aflorada nossa humanidade.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 14/06/2010
Reeditado em 14/06/2010
Código do texto: T2319772
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