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Centenários

 
 
 
   A vida secular parece curiosa: os que rompem tal barreira parecem frágeis, mas em verdade são sobreviventes a inúmeras possibilidades de adoecimento, perda da autonomia, da capacidade e mesmo de morte durante sua existência terrena. 
 
   Imagine você mesmo: hoje qualquer um de nós pode ter acesso a tratamento médico e de outras áreas de saúde, medicamentos, políticas preventivas e saneamento básico, não sendo imaginável o enfrentamento de problemas deste tipo apenas com ajuda de familiares e conhecimento de práticas de medicina caseira e popular, a não ser em áreas desfavorecidas sócio-economicamente, o que infelizmente ainda é muito freqüente em nosso país, campeão de futebol e também de estatísticas sociais negativas.
 
   Os centenários não são homogêneos; alguns chegam muito fragilizados e incapacitados do ponto-de-vista cognitivo, enquanto que outros permanecem lúcidos e participativos, nos limites de suas possibilidades. Mas o que atrai toda a atenção é a sabedoria implícita nas atitudes e comportamentos de muitos destes indivíduos, mesmo com baixíssimos graus de escolaridade, em função da falta de oportunidades de estudos, fato ainda mais relevante entre as mulheres, alvo da discriminação social a que sempre foram submetidas. A capacidade de resistir aos revezes e perdas acumulados durante a vida, não apenas com conformismo estagnante, mas com atitudes positivas e de enfrentamento, também chamada resiliência, é preponderante nesta faixa etária. 
 
   Logicamente existe o favorecimento genético que propicia maior resistência a doenças, mas isso de nada valeria sem o adequado engajamento social e a boa interação com o ambiente, com hábitos saudáveis de vida e prudência nos comportamentos.

   Extrapolando então a análise de tais pessoas, pertencentes a outro século e que ainda ousam permanecer entre nós, com sua grande capacidade de adaptação, podemos atentar para nós mesmos e nossa juventude: a tecnologia global, apesar de ter aumentado espetacularmente a expectativa de vida no último século, cria paradoxos em que este aumento do tempo frequentemente não é acompanhado de qualidade de vida; o sedentarismo, o estresse emocional, a competitividade excessiva, além do tabagismo, consumo lícito e ilícito de substâncias nocivas à saúde, e o cotidiano de nossos jovens, com uso abusivo de aparelhos eletrônicos, noites mal dormidas e alimentação inadequada torna nebuloso o futuro; reunimos mais condições favoráveis à longevidade que nossos antepassados, mas muitos de nós não terão o privilégio de usufruir dessas benesses modernas.

   Conhecer o histórico de vida dos idosos bem sucedidos, além de dar a eles mais atenção e merecido respeito, pode descortinar os horizontes e melhores caminhos a serem percorridos. A sabedoria, verdadeira força do idoso, deve sobrepujar a estupidez do homem e de seus comportamentos.


Obs: texto alusivo à minha centésima publicação no Recanto da Letras.
Max Rocha
Enviado por Max Rocha em 14/06/2010
Código do texto: T2319318
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