VIDA, um breve momento no tempo... - Crônicas essenciais -

Nascimento:

Estávamos acostumados com o aconchego do ventre materno, quando, sem mais nem menos, fomos convidados a participar desse estranho lugar, o mundo em que vivemos. Meio que perdidos, fomos pegos de surpresa por um estranho que nos acorda com um tapa na bunda. Expressamos nosso primeiro sentimento, o choro.

Os primeiros meses:

Somos tratados como reis, comemos a vontade, dormimos o tempo que acharmos necessário e olhem só: choramos um pouquinho e somos atendidos o mais rápido possível, para o bem de todos. Demoramos um pouco mais para andar, somos mais espertos, deixamos que os outros nos carreguem por um bom tempo. Não suportamos os apertões na bochecha e os "gudi, gudi, gudi". A vida segue.

Os primeiros anos:

Começamos a andar, mais por obrigação, afinal ninguém em sã consciência nos daria o controle remoto da tv ou qualquer outro objeto que fizesse a nossa felicidade.

Largamos o peito da mãe, mas vimos que era bom, retomaríamos mais tarde em outras mulheres.

Brinquedos. Nossas mães e empregadas ou um misto delas, nunca viram nada igual espalhado pela casa toda.

Nosso primeiro aniversário. Finalmente a festa tão esperada; pelos outros. Nunca vimos tanta gente comer, beber e se divertir as nossas custas e dos nossos pais, esses, jurando que isso nunca mais se repetiria. Da boca pra fora.

Fomos induzidos a torcer por um time no qual nossos tios também torciam, porque deram de presente um uniforme completo. Completo mesmo. Chuteirinha, meias, calção, camisa e até boné.

Ficamos nessa mordomia por um bom tempo até que nos colocam num lugar estranho, cheio de outras crianças ainda mais estranhas: Maternal, jardim e pré-escola. Nunca tantos parentes jamais vistos foram agregados à família: as tias.

Escola:

Um aglomerado de seres parecidos conosco, disputando um lugar ao...fundo da sala. Preferimos as últimas cadeiras por motivos óbvios. Bagunça.

Descobrimos que as mãos tinham outras finalidades além de usá-las para segurar o sanduíche no recreio. Dar porrada nos mais fracos e puxar o cabelo das meninas. Meninas? Quem inventou isso? Um grupo totalmente à parte e esquisitas. Vejam só, iam sempre ao banheiro em dupla ( até hoje não sei o motivo), nos entregavam sempre de bandeja, nunca deixavam a gente colar delas nas provas e detestavam futebol. Ecaaaaaaaaaaa, que tipo de gente.

Além das tias tem agora os tios.

Adolescência:

Não muda muita coisa. Apenas aumenta a escala, tudo agora é em proporção maior, até os seios das meninas. Começamos a nos interessar por elas.... bem, em algumas partes. Tomamos conhecimento da recuperação, do castigo, das broncas e vimos o quanto é ruim perder para classe ao lado nas olimpíadas. Também nunca fizemos tanta traquinagem em nossas vidas. Elas(meninas) nos chamam de crianças. Sabemos de suas bonecas guardadas no guarda-roupa. Arranjamos grandes encrencas com elas nessa fase.

Juventude:

Descobrimos que "ele" não serve só para ir ao banheiro. Começam os grandes problemas. Elas. Alguma coisa está acontecendo e não sabemos explicar. O futebol fica quase em segundo plano, assim como as brincadeiras de mau gosto.

Alugamos filmes pornô, andamos na moda , temos nossa galera. Adotamos o shopping como nossa primeira casa. Elas continuam nos chamando de crianças.

Adultos:

Algo acontece de muito errado. Tem mais gente além do pai, da mãe, das tias, dos tios mandando na gente: Os patrões. Surgem os compromissos e quando acordamos num a bela manhã de sábado, nos espreguiçamos e damos de cara com eles! Ué? Quem são? Não estavam aqui antes! Sim, a família. Namoramos, noivamos, casamos, engravidamos elas, não necessariamente nessa ordem.

Passamos grande parte do tempo querendo voltar no tempo. O futebol agora é limitado. Falta de tempo e condição física são os fatores determinantes.

Nunca cometemos tantos erros em tão pouco tempo.

O controle remoto que alvejamos quando éramos crianças, agora faz parte do nosso dia à dia. Perdemos um pouco da inocência, ganhamos experiência. Magoamos os outros de verdade. Também pudera, descobrimos o amor. Temos a estranha sensação de que a vida está escapando por entre nossos dedos. Por outro lado nos tornamos grande homens de negócios, jogadores, artistas, professores ou seja lá o que você é hoje. Temos filhos lindos e mulheres maravilhosas. As vezes não percebemos.

A escola terminou e agora nada mais é inconsequente. Parece mentira,mas algumas ainda nos chamam de criança.

Da velhice até os últimos dias:

Os passos são firmes, mas vagarosos. Escolhemos melhor a comida, que mudou drasticamente assim como aqueles que nos cercam. Somos um pouco mais educados com as pessoas, aprendemos com o passar do tempo (ou não). Algumas coisas já não nos interessam mais, outras já nem fazemos. Acordamos bem mais cedo que de costume e ficamos com a mesma roupa por uns dois dias ou mais, quando está muito frio. Ficamos mais carentes de atenção. Parece que as pessoas vão sumindo ao nosso redor, sabemos disso, fizemos isso com outros no passado. Alguns já se foram.

Invertemos os papéis, nossos filhos é que tomam conta da gente, e sempre achamos que nós cuidamos melhor deles. Nossos netos são nossa alegria, fizemos de tudo achando que consertaríamos assim nossos erros passados com nossos filhos.

Estamos cansados. Olhamos para trás. Ou nos decepcionamos achando que tudo foi em vão, ou finalmente entendemos que a vida é assim mesmo e que tudo depende do que aprendemos nesse breve momento, que infelizmente muitas vezes desejamos sem coerência nenhuma que passe rápido, e quando passa, nos damos conta o quão curto foi, é e será...