A COPA E AS ENTREVISTAS COM CRIANÇAS
*LCdeAbreu - Repórter de TV em Roraima, extremo norte do país.
A COPA E AS ENTREVISTAS COM CRIANÇAS
Trabalho de repórter! Fazer o que? Chefe manda a gente obedece. A pauta nem sempre é o que nos agrada, mas nem por isso vamos brigar. Com a Copa do Mundo aí não faltam assuntos relacionados ao mundial. O futebol vira disciplina nas escolas. Criancinhas vestidas de verde e amarelo, professores e seus projetos mirabolantes envolvendo o tema e a produção apostando que as matérias vão “render que é uma beleza”. Nem sempre!
- Vamos fazer uma matéria numa escola que passou o mês inteirinho ensinando aos alunos sobre a história das Copas e sobre a África do Sul! Vai ser legal! – palavras da produtora.
Isso me lembra muito o que as crianças, aquelas mais jovens, respondem quando você pergunta qualquer coisa. Deixando claro que nem todas falam assim.
- A merenda é boa?
- Legal!
- O que você aprendeu na aula?
- Legal!
- Você gostou da apresentação?
- Legal!
Entenderam? Pois é. O clima de Copa não atrapalhou o trabalho da reportagem. Câmera na escola, crianças correndo, professoras gritando, tudo bem normal, até que começaram as entrevistas.
A professora disse:
- Pode pegar qualquer um. Todos estão por dentro do assunto, história das copas e África do Sul. – professora confiante.
Então vamos lá. A primeira aluna, uns seis anos, a primeira vítima.
- O que você aprendeu sobre a África do Sul? – pergunta genérica. A resposta nem tanto.
- É um lugar que tem muito pretinho! – naturalidade tipicamente infantil. O desconforto ficou para a equipe de reportagem e para a professora que de olhos arregalados parecia incrédula diante da resposta.
- Vamos pegar outro aluno, ela deve ter ficado nervosa. – justificou a professora.
- Ok. Vamos com outro. Esse aqui! Me diz ... você sabe quantas copas do mundo já foram realizadas?
Sem pensar muito e seguro do que dizia, o jovem de sete anos martelou a resposta.
- 52 copas.
A título de explicação a Copa da África do Sul é a 19ª edição do mundial. Realizado desde 1930.
A professora sem saber o que dizer rendeu-se.
- É melhor perguntar sobre qual time eles vão torcer.
A resposta era óbvia demais, só que pelo caminho da reportagem até ali era melhor que nada.
- E você vai torcer pra que time?
Veio o inacreditável. Menino de seis anos responde:
- Uruguai.
- Mas e o Brasil?
- Ah ... tem o Brasil também.
No fim de tudo a reportagem foi feita, talvez não tão facilmente como se pensava, apenas rendeu. O legal (Entendeu? Legal? Aquela historinha do início?) é que surpreendentemente aprendemos que o universo infantil é feito de surpresas. Um mundo diferente, algo capaz de tornar tudo possível, de contrariar o óbvio. E isso é maravilhosamente “LEGAL”!