TORMENTOS MEUS

“Tem dias que fico pensando na vida e sinceramente não vejo saída. Como é, por exemplo, que dá pra entender, a gente mal nas, começa a morrer. Depois da chegada vem sempre a partida, porque não há nada sem separação. Sei lá, a vida tem sempre razão.”

Vinícius de Moraes

É um estado permanente de angústia o tal ato de pensar. Tem horas que acredito como se estivesse sendo subtraído de toda a minha fé humana que quem se habitua a pensar pouco vive mais contente. Eu quero dizer do ato de refletir e ficar buscando coisas onde elas não estão, procurando uma equação sem resultados exatos mas com alguma fórmula para desencaminhar o mundo, desconstruindo-o e fazendo algo mais habitável em seu lugar. Não posso falar mal das pessoas que não refletem, afinal elas pensam. Refletir e pensar, para mim tem sinônimos de ver e não observar detalhes nem absorver o impacto da visão. Mas é que eu acho que a grande maioria pensa estritamente o que é necessário para se diferenciar como seres superiores do reino animal. Ou seja, colocar o cérebro para garantir uma vida boa e resignada, indignada apenas com o que vem de fora incomodar. Acredito que os animais pensam. Eles não têm é a faculdade da reflexão que ultrapassa um condicionamento, um mecanicismo no agir como os domesticados através de um sistema de recompensas. (Fez certinho, foi recompensado). O que vem de dentro “é coisa de filósofo, de existencialista, de gente que não precisa ganhar o pão com o suor do rosto.” Até parece! Penso no futuro e vejo que é algo que se tornou absolutamente coisa do passado, passado esse que já não serve para mais nada a não ser causar riso medíocre em quem só pensa que o presente é tudo o que existe. Tem muita gente que acha que recorrer ao passado é sucumbir ao indesejado envelhecimento. Coisa mais velha esse pensamento! Melhor fica sendo não construir nenhuma história nem saber que ela é o esteio de um indivíduo, que, por sua vez está intrinsecamente ligado a uma civilização inteira. É bom que assim nada muda. Ou talvez tudo mude para permanecer como está. O fantástico mundo das permanentes aparências em que vivemos. O senso comum é muito pobre e preguiçosamente autodestrutivo. Sempre virá algo com roupagem nova e com velhas estruturas revigoradas como se fosse revolucionário. E ele costuma chamar essas novidades de evolução. Mas que importância tem mesmo? Só tem importância para quem resolveu dominar economicamente, politicamente, socialmente e culturalmente. O resto pode deixar todo mundo à vontade. Deixar que as grandes discussões se dêem na escolha da melhor forma de aparecer nas ruas e lugares onde se possa ser visto. Deixar à vontade para que a aparência física seja a própria história de vida e tudo o que é necessário para a sua manutenção “nos trinques” ocupe o pensamento. Inclui-se toda a indumentária, cosmética e patrimônio imóvel e móvel que se puder juntar. Pra quem se dá ao penoso hábito da reflexão, encerro com Paulinho da Viola, um músico filosófico: “Tendo no rosto, no peito e nas mãos uma dor conhecida, vivemos, estamos vivendo. Lutando pra justificar nossas vidas.”

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 13/06/2010
Código do texto: T2318208
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