A vaidade é uma merda
Embora alguns façam confusão, e até mesmo a frase conhecida seja “a inveja é uma merda”, o que fede mesmo é a vaidade. A vaidade é a desgraça do mundo, é a desgraça das pessoas, é uma espécie de vírus que contagia e poderia muito bem encaixar-se numa doença mental de difícil cura e solução. É de tal complexidade as razões que detonam a vaidade, que fica quase impossível dizer ou imaginar onde é que começa e como se dá fim nisso.
A inveja pode ser interpretada. Digamos que o fato de eu querer ter o que o outro tem é apenas um desejo de ter algo. E como aquilo que o outro tem me agrada, acho bonito, quero ter um igual para mim também. Trabalho, ganho, compro um igual e resolvo o meu problema. Já se o outro queria exclusividade e a perdeu é problema dele e que tire as calças e pise em cima. Eu também tenho que suportar o fato dele ter um igual ao meu, mesmo que ele tenha comprado primeiro.
A vaidade é um dos 7 pecados capitais, e sempre citado como o pior deles. Interessante que, mesmo sendo pecados, seja lá da capital ou do interior, não há qualquer menção sobre eles na Bíblia. Todavia é uma lista de conduta criada pela Igreja Católica, talvez numa evolução da moral e da ética, para por um pouco de ordem no galinheiro humano. É de se notar que o pecado capital “Gula” não tem a ver exatamente com comer muito, mas sim em querer demais, ser demasiadamente ambicioso. Outra desgraça humana, como todos os pecados capitais, que são sempre interpretados conforme a conveniência e a transferência do dolo, ou seja, pecador é sempre o outro. Mas voltemos ao tema da vaidade.
A vaidade está, por exemplo, na banalidade do salto alto. Qual razão teria uma mulher em usar uma coisa desconfortável e que precisa de equilíbrio e treino, até encarece o produto, deforma o pé e tudo mais, se não fosse apenas para ficar mais alta do que já é? E, pergunte-se a você mesma, mulher brasileira, ou de língua portuguesa, que utilidade tem ficar 10 ou 15 cm acima de alguém? Ah, sim, é a moda. E deve ser chique também, e o que não vai faltar são explicações, menos uma verdadeira e pura: “É que eu quero aparecer mais que as outras, ser vista como maior, melhor, superior!”. Apesar do fato de tudo isso ser absolutamente insignificante.
Aliás, pelo contrário, quanto mais se vive mais se nota que as pessoas que são verdadeiramente grandes, valiosas, virtuosas, nobres, sábias, decentes, compassivas, são as que menos se deixam contagiar pela vaidade. Principalmente porque vaidade toma tempo, custa caro, não traz benefício algum, e se a pessoa trocasse uma sandália, que talvez use uma única vez, por dois ou três livros faria muito mais negócio para sua vida e para sua grandeza pessoal. É muito mais sensual uma mulher falando sobre um livro que leu, que aquela que esforça para não cair do salto, o qual lhe tortura os pés e a mantém sorrindo de imbecilidade. Além de não ter o que falar, porque não lê nada, o fato de sorrir com dor só pode lhe travar a língua. Qualquer limitado mental enxerga isso.
Qualquer pessoa realmente elegante não se deixa contaminar pela vaidade burra. Elegância é acompanhar a moda à distância, é seguir a tendência com prudência, e não se vestir espalhafatosamente para mostrar que está enturmada ou engajada nos últimos lançamentos. Uma senhora de 50/60 anos que vá expor suas celulites em roupas elásticas, justas e apertadas, ainda que seja o que há de mais atual, sempre será uma perua ridícula e nunca uma “modernete” ligadíssima no que há de mais novo nos lançamentos de qualquer estação.
Comparando a inveja com a vaidade, e como a vaidade é cruel e estúpida, raramente se vê uma pessoa que, ao querer comprar um carro e vendo que o amigo comprou um recentemente, limite-se a comprar um igual ou até inferior, caso o outro tenha optado por acessórios caros e que nunca serão utilizados. O que se vê, na verdade, é que não só comprará os acessórios inúteis e caros, como ainda dará um jeito de colocar algo que o diferencie. Seja no único opcional que o colega não comprou, ou num motor mais potente, ou num carro similar, mas de outra marca, mais cara e com mais charme, e consequentemente mais cara. O amigo te mostra um Fiat Palio ultra equipado, e você, ou a pessoa que nunca será você, aparece com um Citroën C3. A dívida que se deixa no banco para bancar a vaidade costuma-se não se colocar em rodas de discussão. Aliás, vaidade é um tema que nunca está em debate, a não ser que seja para falar mal de alguém de quem você esteja sangrando de inveja.
Concordo que se livrar desse mal seja mesmo muito difícil, mesmo porque isso vem arraigado de berço e complementado com o meio social. Cansei de ver adolescentes obrigando a mãe a comprar uma roupa desnecessária, sob o forte argumento de que não iria à festa com uma roupa pior que a da fulana. Um escárnio. Se a mãe quisesse o bem da filha não só não compraria a roupa, como não a deixaria ir à festa. Hoje já não me convidam mais para casamentos, acho que já se casaram todos. Mas os últimos convites que recebi deveriam ter custado ao menos 30 reais cada um, dada tanta frescura para se conseguir algo que fosse diferente de tudo, como se a gente não soubesse que tiveram que fazer um empréstimo bancário para pagar essa babaquice toda que vai tudo para o lixo e para o esquecimento do dia mais inesquecível da vida deles.
Preciso concluir. A vaidade é mesmo uma merda. Pense nisso na sua próxima aquisição. A inteligência é a mais poderosa arma de sedução de uma mulher, embora os homens sejam muito vaidosos também, mas infelizmente é a menos usada. É uma pena. Mulher burra, ainda que “linda”, é um pé-no-saco.
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