SOU DE ONDE?
Primeira parte. Vou e sigo fazendo orações ao vento, ventania, idas e idas, sempre procurando me encontrar, onde? Vou e sigo fazendo orações ao dia, nestas horas quentes, pra lá de Bagdá.
Nestas horas quentes, nestes dias apaixonados, nesta eternidade de sonhos, mais, preciso é de criatividade para viver, qual idade, se sou eterno? Preciso de mim mesmo para me superar, neste emaranhado de pesadelos. Nem tudo são flores, nesta selva de pedra. Razões para chorar tenho de sobra e sobra alegria também, noite e dia, sol e chuva, ventania, tempestade, brisa, paisagens fantásticas, sou de onde?
Segunda, à parte. De pensamentos, sentimentos, idéias, sonhos e projetos existenciais, estou cheio. Até a tampa. De ar. Os meus pulmões. Preciso urgentemente me esvaziar, sair, isolar, sei lá, ir pra onde? Se a ida terá retorno, é incerto, de certo mesmo só seguindo a placa de sinalização. Impreciso, sigo placas aleatórias, que me levam para lugar algum, consumindo meus dias, minhas horas, tão preciosas neste momento, se cheguei até aqui, já gastei muito combustível, seguindo retornos, contornos, vias expressas, caminhos e estradas escondidas, de norte a sul, cruzo as cidades e suas adjacências, entornos, em busca de mim mesmo, mesmo sabendo que estou longe, em outras paragens, passagens de uma outra estória, que não será contada aqui, agora.
Continuando. Ando. O que estou procurando, não vou encontrar aqui, nem ali, nem acolá, nem onde Judas perdeu as botas, e bota lenha na fogueira, e bota e tira água, joga para a superfície, será que vai chover?, este texto que não quer chegar a lugar algum. Que lugar é este? O que achei, o que perdi, nunca vou encontrar fora daqui onde estou?
Decididamente, a mente exclama, dentro de seus limites, o paraíso está na terra, maiúsculo, no ar, na água, no fogo, nos elementos, em mim e em você, em todos os lugares. As frases e as fases não estão bem encaixadas neste ninho de palavras sobre assuntos temáticos e sob a luz do sol, e o brilho da lua, neste ano e no seguinte, cada dia, para mim, nunca acaba.
O que estou procurando, se não sou daqui? Intruso. Meus momentos diários, meus movimentos noturnos, me causam arrepios, temores desconhecidos e conhecidos, caminhos, destinos, rotas e ruas pelas quais nunca passei, a multidão, os aglomerados urbanos, o encontro nos cruzamentos, sinal fechado para alguns e aberto para outros, todos os espaços ocupados, sou tão pequeno neste formigueiro humano, a saída é por onde?
Epílogo. Nesta mistura, salada genética, cromossomos e idéias aos milhares, as pessoas vagueiam pelo vento a fora, seguindo as poucas pistas que possuem, talvez lendo Paulo Coelho, místico moderno, leio as mãos e lavo seus pés, beijo seu rosto, ofereço a outra face, misturo café com leite, misturo as letras, formando palavras desconexas, desconectadas, desplugadas destes aparelhos produzindo tanto barulho que quase fico louco e louco fico sempre que escrevo, não sei parar, sem separar, recolher, escolhar as palavras, que me cegam, me convencem a continuar, mesmo sem o meu consentimento, sem traduzir meu real estado, estágio, probatório?, misturo, samba com futebol, convido Nitschie e Dali, surreal, pergunto, novamente, a saída é onde? Sou de onde? Sou de Q? Massa? Músculos? Só? Sou feito de letras, palavras e frases? De misturas? Fases? Idades? Na cidade, metrópoles, seres fantasiados de pessoas honestas, cadastradas, registradas em cartório e tal, qual falei, não sou daqui, nem Dali, sou de muito longe, sou de onde?