DEZ CENTAVOS...
Na estação Sé do metrô de são Paulo, provavelmente a maior estação de trens da America Latina, me encontrava na fila de compras de bilhetes.
Ao revirar os meus bolsos verifiquei que me faltavam dez centavos, do valor da passagem.
Lamentei minha falta de atenção. Ao chegar à frente do caixa pedi:
_ “Moça. Estão me faltando dez centavos. Poderia me vender o bilhete assim mesmo? – A moça não me deu chances de falar de novo, me mandou sair da fila, que procurasse os guardas para me deixarem passar pela roleta.
Sai da fila de cabeça baixa envergonhado, não tive coragem de pedir aos guardas, temi ser maltratado por eles.
Do lado de fora da estação havia vários pedintes, rapazes magérrimos de semblantes tristes, mulheres com crianças no colo, doentes pedindo esmolas.
Resolvi pedir a uma Senhora de aparência distinta.
_” A Senhora poderia me arranjar dez centavos para me completar o dinheiro da passagem? ’ – ela respondeu ríspida: _” Vai trabalhar vagabundo...”
Profunda tristeza senti neste momento, não poderia condená-la ou a caixa da bilheteria. – Pensei – “Quem pode saber qual pedinte fala a verdade?”
As pessoas que esmolavam me olharam com olhos ferozes, me viram como mais um concorrente a pedir dinheiro aos passantes.
Sabia que se insistisse encontraria alguém de bom coração que me daria os dez centavos, mas a tristeza era tão grande que me sentei nas escadas de uma marquise.
Um Sentimento de verdadeira impotência tomou todo o meu ser, entrei em sintonia com aquelas pessoas que esmolavam.
Ah!...Como é doloroso pedir... Ah! Como dói se sentir dependente dos outros seres humanos.
Lágrimas encheram meus olhos, me coloquei no lugar daquelas pessoas.
Senti a dor do abandono as amarguras, as dores das humilhações que fazem parte do diário viver daqueles seres humanos.
Entendi que o dinheiro não resolveria o problema deles.
Por isso senti este sentimento tão profundo de impotência,
São seres humanos destruídos internamente, esmolam centavos para saciar os vícios de bebidas e drogas, outros pedem porque não tem forças internas para superar as dificuldades, se acreditam párias da sociedade.
Outros talvez por doenças físicas
Compreendi que no fundo são pessoas profundamente doentes.
Carregam grandes desajustes internos, na mente e na alma.
Nas suas historias encontraríamos verdadeiros dramas, cheios de maus tratos, violências, carências, misérias, abandonos.
Alguns garotos me rodearam, eram menores abandonados, vi no olhar deles, desconfiança, tristeza, e muita magoa, olharam para minha jaqueta.
A principio pensei que queriam me roubar, mas vendo a minha tristeza notei, queriam se solidarizar comigo.
Alguns guardas se aproximaram, os garotos foram embora sem dizer palavra, os policiais não se importaram de me verem sentado nas escadas da marquise.
Pensei em telefonar para familiares ou amigos. mas refleti:
É um absurdo fazê-los vir até aqui apenas para me emprestar dez centavos.
Ir a pé para casa, demoraria horas para chegar.
Uma fraqueza inexplicável tomou todo o meu corpo, tive imensa vontade de deitar ali naquelas escadas, estava completamente conectado com o sentir daqueles pedintes.
Com olhos embaçados pelas lágrimas, vi, algumas meninas com uniformes escolares, uma delas sentou=se ao meu lado e perguntou sorrindo:
_” Porque o Senhor esta triste? –
Aquelas palavras cheias de carinho me fizeram chorar de verdade
Então falei: soluçando:
_” Estou triste, não porque alguém me negou dez centavos.
Minha tristeza vem de ver tanto sofrimento humano.
Será que Deus se esqueceu destas pessoas? Onde está a centelha divina dentro delas que não atua e as fazem sair deste marasmo e sofrimento?
Porque Deus permite tudo isso?"
A menina falou com voz vibrante;
_ ” Ninguém neste mundo está abandonado pelo amor do Criador, estas pessoas estão em tratamento.
Um tratamento ainda incompreensível para o teu cérebro.
Jamais julgue os desígnios de Deus.
Seus olhos não podem ver, mas te garanto que existe um exercito de anjos atuando aqui, protegendo, auxiliando, amparando a todas essas pessoas que você julga estarem abandonadas pela providencia Divina.
Estes anjos obedecem ao comando do nosso Senhor Jesus.
É maravilhoso sentir e entender as dores alheias, desde que usemos este sentir para encontrar em nós os meios de sermos úteis aos nossos semelhantes.”-
As palavras da menina mexeram com meus brios, envergonhado evitei fitar os seus olhos, quando enxuguei as lágrimas e procurei vê-la, percebi que estava sozinho deitado naquela marquise.
Levantei-me cheio de energia, e disse para mim mesmo: “ Devo sentir o sofrimento dos outros, mas não me abater.”
Pedi os Dez centavos a um jovem que vinha apressado, ele sem pestanejar tirou um bilhete do bolso, me entregou e seguiu seu caminho.
Já dentro do trem fiquei pensando; ”Será que aquela menina era um anjo que veio me dar um puxão de orelhas? "