MELHOR QUE DAR O PEIXE É ENSINAR A PESCAR - I
"Eu quero formar seres e não dicionários que caminham." Esta frase, pronunciada no Congresso sobre Dificuldades na Aprendizagem, semana passada, em João Pessoa, capital da Paraíba, me deixou bastante pensativo sobre as práticas educativas às quais submetemos, ainda, nossos jovens hoje.
Aparentemente, uma frase de efeito, nada mais. Mas não é. Ela traz no seu bojo uma complexa reflexão sobre o ser e sua formação, isto, a partir dos parâmetros curriculares educacionais institucionalizados, esta que se autointitula como sendo a formadora dos futuros cidadãos de nosso mundo.
Estávamos, pois, eu e mais algumas colegas professoras, neste Congresso Internacional, quando, de repente, diante desta frase, passei a arguir sobre os rumos dados, por nós, para uma formação plena do educando na sala de aula. É claro que, imediatamente, fui questionado – abrindo-se uma discussão benéfica –, por não aceitar a forma de como se media o conhecimento na atual estrutura do ensino básico, na qual leciono, isto é, dentro da realidade que conheço, pois, se formos falar de Brasil, passaremos a ter outras realidades que, sinceramente, só tenho visto através dos bons exemplos dados: ora por palestrantes e suas teses de doutorado; ora por propagandas elaboradas por governos – e veiculadas na mídia –, de forma sensacionalista, que não deixam dúvidas de que o país caminha a passos largos para uma revolução educacional.
Pode até ser assim mesmo, mas, nós que convivemos com a realidade de nossos educadores – deficiências curriculares, físicas e materiais –, sabemos da necessidade de se buscar, urgentemente, caminhos que possam nos trazer, a curto prazo, soluções para uma didática que contemple, não só o universo dos muros das universidades, mas que se acople, a isto, o conhecimento de mundo que nossos educandos trazem de fora desses muros.
- Mas, de que educação você está falando, professor? – perguntou-me a minha colega da esquerda, claramente interessada na resposta.
“Minha jovem colega - disse-lhe em tom paternal -, o mundo mudou. Os jovens de hoje encontram, em cada esquina, um núcleo de saber. O professor não retém mais este conhecimento. Ela, a ciência, traspassou os muros das instituições de ensino e, por mais que saibamos disso, nós ainda fazemos uma transposição didática baseada na realidade de vinte anos atrás, onde a metodologia se fundamentava, muitas vezes, na memorização, no comportamento, no quadro-negro com giz, no livro indicado – de cima para baixo – e no autoritarismo faustoso de quem ainda se acha a peça chave da cognição, isto, sem privilegiar o questionamento, a interação, a pesquisa e a tecnologia existente no mundo atual”.
- Ótima retórica, professor, mas, o que o “nobre colega” sugere? – cutucou-me a colega do meu lado direito, ela, com a mais fina ponta de curiosidade que uma resposta pode dar.
“Verdade seja dita, colega, não tenho a resposta”, respondi-lhe, olhando-a nos olhos de pergunta, e percebi um princípio de desapontamento em seu olhar de resposta. Mas posso lhe dar algumas pistas de como estamos décadas atrás em nossa metodologia escolar. Senão vejamos, completei”.
(Neste momento, voltei a observar o brilho de interesse retornando ao seu olhar receptivo, como a querer ouvir algo que ela mesma, com absoluta certeza, já sabia a resposta).
“A principal função social da escola é formar cidadãos. Entretanto, essa escola não se organizou para viver a sociedade contemporânea, com sua pluralidade e diversidade sócio-cultural, onde a tônica é o ter em detrimento do ser. Ela, por exemplo, não se preparou para os problemas sociais, a começar pela desestruturação da família, nem acompanhou a evolução tecnológica – instruindo seu corpo docente e, principalmente, equipando a sua instituição para isto”.
“Além do mais - continuei -, erramos a partir da menor base, quando não adotamos critérios para uma proposta pedagógica baseada no cuidar e, também, no educar, nos esquecendo que, nesta base, deveriam estar os principais profissionais do magistério e/ou da pedagogia, bem remunerados – apesar de que, estamos começando a contemplar a educação infantil e o fundamental menor, treinando e capacitando esses agentes para que desempenhem bem seus papéis”.
- Pelo que você está dizendo, me parece que não há solução – voltou a cutucar-me a colega da esquerda.
“Tem sim, falei. Uma prova disso é este Congresso. É a partir dessas iniciativas que nós vamos conscientizando as autoridades, cobrando delas uma maior participação nessa reforma educacional e, por outro lado, nós, também, vamos nos aproximando mais dessa juventude, passando a entendê-la melhor, e até interagindo com a rapidez de suas conquistas. Mas, o mais importante é nos fixarmos na criança, construindo junto com esta semente, o homem do amanhã. Para isso, nós precisamos compreendê-la, aprender com elas, edificarmos juntos o caminhar”.
“Por isso - continuei -, a frase estampada mexeu muito comigo. Ela nos indica, nitidamente, quais os caminhos que deveremos seguir. E estes caminhos são os caminhos do compartilhamento, onde aqueles que recebem não recebam, no caso, o conhecimento pronto, mas que construam esse conhecimento, passo a passo, alicerçados, não só na sociedade de consumo, mas, e principalmente, numa coletividade que busque a harmonia de uma vida saudável, de paz, onde as conquistas, todas elas, sejam ecologicamente corretas, que preservem o meio onde vivem e que o poder econômico só seja primordial quando for para disseminar o equilíbrio do planeta...”
Obs. Imagem da internet"Eu quero formar seres e não dicionários que caminham." Esta frase, pronunciada no Congresso sobre Dificuldades na Aprendizagem, semana passada, em João Pessoa, capital da Paraíba, me deixou bastante pensativo sobre as práticas educativas às quais submetemos, ainda, nossos jovens hoje.
Aparentemente, uma frase de efeito, nada mais. Mas não é. Ela traz no seu bojo uma complexa reflexão sobre o ser e sua formação, isto, a partir dos parâmetros curriculares educacionais institucionalizados, esta que se autointitula como sendo a formadora dos futuros cidadãos de nosso mundo.
Estávamos, pois, eu e mais algumas colegas professoras, neste Congresso Internacional, quando, de repente, diante desta frase, passei a arguir sobre os rumos dados, por nós, para uma formação plena do educando na sala de aula. É claro que, imediatamente, fui questionado – abrindo-se uma discussão benéfica –, por não aceitar a forma de como se media o conhecimento na atual estrutura do ensino básico, na qual leciono, isto é, dentro da realidade que conheço, pois, se formos falar de Brasil, passaremos a ter outras realidades que, sinceramente, só tenho visto através dos bons exemplos dados: ora por palestrantes e suas teses de doutorado; ora por propagandas elaboradas por governos – e veiculadas na mídia –, de forma sensacionalista, que não deixam dúvidas de que o país caminha a passos largos para uma revolução educacional.
Pode até ser assim mesmo, mas, nós que convivemos com a realidade de nossos educadores – deficiências curriculares, físicas e materiais –, sabemos da necessidade de se buscar, urgentemente, caminhos que possam nos trazer, a curto prazo, soluções para uma didática que contemple, não só o universo dos muros das universidades, mas que se acople, a isto, o conhecimento de mundo que nossos educandos trazem de fora desses muros.
- Mas, de que educação você está falando, professor? – perguntou-me a minha colega da esquerda, claramente interessada na resposta.
“Minha jovem colega - disse-lhe em tom paternal -, o mundo mudou. Os jovens de hoje encontram, em cada esquina, um núcleo de saber. O professor não retém mais este conhecimento. Ela, a ciência, traspassou os muros das instituições de ensino e, por mais que saibamos disso, nós ainda fazemos uma transposição didática baseada na realidade de vinte anos atrás, onde a metodologia se fundamentava, muitas vezes, na memorização, no comportamento, no quadro-negro com giz, no livro indicado – de cima para baixo – e no autoritarismo faustoso de quem ainda se acha a peça chave da cognição, isto, sem privilegiar o questionamento, a interação, a pesquisa e a tecnologia existente no mundo atual”.
- Ótima retórica, professor, mas, o que o “nobre colega” sugere? – cutucou-me a colega do meu lado direito, ela, com a mais fina ponta de curiosidade que uma resposta pode dar.
“Verdade seja dita, colega, não tenho a resposta”, respondi-lhe, olhando-a nos olhos de pergunta, e percebi um princípio de desapontamento em seu olhar de resposta. Mas posso lhe dar algumas pistas de como estamos décadas atrás em nossa metodologia escolar. Senão vejamos, completei”.
(Neste momento, voltei a observar o brilho de interesse retornando ao seu olhar receptivo, como a querer ouvir algo que ela mesma, com absoluta certeza, já sabia a resposta).
“A principal função social da escola é formar cidadãos. Entretanto, essa escola não se organizou para viver a sociedade contemporânea, com sua pluralidade e diversidade sócio-cultural, onde a tônica é o ter em detrimento do ser. Ela, por exemplo, não se preparou para os problemas sociais, a começar pela desestruturação da família, nem acompanhou a evolução tecnológica – instruindo seu corpo docente e, principalmente, equipando a sua instituição para isto”.
“Além do mais - continuei -, erramos a partir da menor base, quando não adotamos critérios para uma proposta pedagógica baseada no cuidar e, também, no educar, nos esquecendo que, nesta base, deveriam estar os principais profissionais do magistério e/ou da pedagogia, bem remunerados – apesar de que, estamos começando a contemplar a educação infantil e o fundamental menor, treinando e capacitando esses agentes para que desempenhem bem seus papéis”.
- Pelo que você está dizendo, me parece que não há solução – voltou a cutucar-me a colega da esquerda.
“Tem sim, falei. Uma prova disso é este Congresso. É a partir dessas iniciativas que nós vamos conscientizando as autoridades, cobrando delas uma maior participação nessa reforma educacional e, por outro lado, nós, também, vamos nos aproximando mais dessa juventude, passando a entendê-la melhor, e até interagindo com a rapidez de suas conquistas. Mas, o mais importante é nos fixarmos na criança, construindo junto com esta semente, o homem do amanhã. Para isso, nós precisamos compreendê-la, aprender com elas, edificarmos juntos o caminhar”.
“Por isso - continuei -, a frase estampada mexeu muito comigo. Ela nos indica, nitidamente, quais os caminhos que deveremos seguir. E estes caminhos são os caminhos do compartilhamento, onde aqueles que recebem não recebam, no caso, o conhecimento pronto, mas que construam esse conhecimento, passo a passo, alicerçados, não só na sociedade de consumo, mas, e principalmente, numa coletividade que busque a harmonia de uma vida saudável, de paz, onde as conquistas, todas elas, sejam ecologicamente corretas, que preservem o meio onde vivem e que o poder econômico só seja primordial quando for para disseminar o equilíbrio do planeta...”