BEIRANDO CEM
Hoje estou por demais, alegre! Nem tanto pelo meu aniversário, a completar mais um ano a enrugar a pele, enferrujar os ossos, branquear o cabelo e entupir novas artérias, aproximando-me lentamente do meu futuro certo e esperado, o qual dormita em funerárias. Minha felicidade é outra. E mais completa. E não estou a ironizar, vocês a imaginarem que estarei adocicando as letras pelo excesso de diabetes a formigar partes do corpo ou temperando as palavras a solidificar os ossos, tão debilitados pela falta de cálcio. E por mais que conceitue o viver a tirar proveito dos momentos vividos, essa felicidade aparente é futura, ampliada há pouco, mal li uma notícia a deixar-me extasiado, já a programar na segunda-feira próxima uma visita ao médico, a calibrar peso, taxas de colesterol, triglicérides, glicemia, ácido úrico e o que mais se apresente necessário, justificando assim tão radiante ventura.
Quando o Brasil ainda engatinhava no ProÁlcool, combustível revolucionário a fazer o planeta esquecer de vez o ouro negro em seus fósseis subterrâneos, fiz do japonês um futuro sem incógnitas. Povo ordeiro, trabalhador, pacífico e promissor, já me deixava aliviado e satisfeito quando começaram a diminuir o tamanho dos eletroeletrônicos, facilitando o cotidiano de nossas vidas. Menos de trinta anos depois de terem sido derrotados na segunda guerra mundial, já assumiam uma tecnologia de ponta, a expandirem pelo mundo seus tentáculos. E, além de copiarem, reduzindo e aperfeiçoando todo e qualquer eletrônico, começaram a desenvolver invenções que, alguns anos de pesquisa depois, já estavam lançando no mercado mundial. E vem justamente dos nipônicos a minha satisfação de momento.
Passados pouco mais de 50 anos, o povo brasileiro viu ampliar-se sua expectativa de vida em quase 30 anos. Desacostumados com a velhice em sua amplitude, seremos um problema novo dentro de pouco mais de 10 anos, quando mais de 30 milhões de brasileiros estarão com mais de 60 anos de idade, a trazer no bojo doenças que dona morte não deixou muitos de nós conhecermos intimamente. E eu, a ampliar direitos, petulante que sou, achando que chegarei tranquilamente aos 99 anos de idade, estava temeroso – espelhando-me nos idosos atuais – de não ter forças, a suportar sequer carregar-me em passeios diários. E é justamente aqui que entra a felicidade momentânea, os nipônicos e a velhice sem riscos.
“Robô japonês promete garantir ‘Super Força’ para os idosos”. Essa a manchete, senhores! Nem podem estar dando o devido valor nesse momento, mas espero vê-los em um futuro próximo, tirando onda com a engenhoca que demorou 15 anos para ficar pronta e envolveu 15 especialistas. Liderado pelo professor Shigeki Toyama, foi produzido em metal e plástico e funciona como uma espécie de esqueleto de apoio, com capacidade de aumentar a força das pernas e braços de pessoas de mais idade, que geralmente têm a dificuldade de se locomover ou levantar objetos. Segundo os inventores, o robô pode diminuir em até 62% os esforços físicos realizados por uma pessoa. Isso hoje. Imaginem daqui a 20 anos. E como sei que os especialistas nipônicos não param de inventar e adequar em tamanho seus inventos, ficarei eternamente agradecido quando, enfim, inventarem um meio de levantar sem qualquer dificuldade, certo tipo de órgão de octogenários. Aí sim, estarei pronto para a minha tão almejada velhice!