O Cúmulo do absurdo!

Em uma noite de quarta – feira, eu estava voltando da faculdade e indo em direção ao terminal rodoviário. O vento que passava pelo meu rosto era gelado, fazendo os pêlos da minha face se arrepiarem. Eram pelo menos umas dez horas da noite e o movimento de pessoas com exceção dos alunos da faculdade era fraco.

Chegando ao terminal eram dez horas e trinta minutos, retirei o cartão magnético de minha carteira, aproximei-o da máquina e então a catraca foi destravada para que eu pudesse passar. Subi uma pequena escada com três degraus e me sentei em um banco de concreto para esperar o ônibus como habitualmente faço.

- Aqui é onde? – de repente um carinha baixinho, extremamente bêbado, segurando uma lata de cerveja na mão me perguntou.

- Aqui é o terminal. – respondi.

- Vixe. – disse ele.

- Para onde o senhor está indo? – perguntei.

- Para Botujuru. – disse ele.

- Então é aqui mesmo. – eu disse apontando para uma placa em que estava escrito bem grande o nome do bairro BOTUJURU.

Mais a frente havia um outro ônibus parado, e o senhor dirigiu-se a ele, pensando que eu tinha apontado para o ônibus. Uma mulher me sorriu, um sorriso meio sarcástico, achando que eu tinha sacaneado o bêbado. Ele mal conseguia subir ao ônibus e depois ele simplesmente desapareceu. Por um tempo fiquei pensando onde aquele senhor teria se metido.

O ônibus Botujuru finalmente encostou ao ponto, as portas se abriram e umas dez pessoas desceram do veículo. As portas da frente também se abriram e o motorista desceu todo sorridente e sentou-se um pouco no banco de concreto, e puxou assunto com o cobrador que acabara de descer do outro ônibus. Fiquei um tempo por ali, foi então que um moço subiu as escadas e dirigiu-se ao ponto em que estava estacionado o ônibus que eu tomaria.

Havia algo de singular no modo como esse moço se comportava, ele parecia ter algum comprometimento mental, além de problemas de dicção, notei esse fato quando ele se dirigiu ao motorista, que há pouco se levantara e estava vistoriando os pneus do ônibus.

- Moço... aqui ... é... o ... Botujuru?

- Você não sabe ler não? – respondeu rudemente o motorista e ainda emendou – Se você acertar o que está escrito vai me dar um pouco desse chocolate que você está bebendo.

Havia um quê de inocência naquele moço que o motorista impiedosamente tirava o sarro, tanta inocência, que ele chegou mesmo a estender o copo de plástico onde havia chocolate quente para o motorista, que se sentia o máximo tirando sarro daquele ingênuo moço. O prazer do motorista em humilhá-lo ficava claro no sorriso que enfeitava o seu rosto.

O motorista esperou um pouco e quando viu que o homem não conseguia ler o que estava escrito, falou que era Botujuru e saiu dando muita risada. Eu não manifestei nenhuma ação e me sinto meio culpado por isso. Em parte não me manifestei na esperança de que alguém dissesse para que o motorista parasse de tirar sarro daquele homem.

Só então percebi que eu parecia ser o único a achar aquilo o cúmulo do absurdo. Para as outras pessoas aquela cena soava pelo menos ao meu ver, normal. Então subi ao ônibus e aquele ingênuo moço também. E enquanto o ônibus partia fiquei me perguntando onde estariam os valores morais das pessoas. Onde elas os tinham escondido? Onde estava o respeito pelo próximo? Será que o motorista era um ser humano tão pequeno que só poderia se sentir bem se humilhasse alguém?

Será que só eu enxerguei o absurdo que era o motorista humilhar aquele ingênuo homem?

André Martza
Enviado por André Martza em 12/06/2010
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