AMOR E ETERNIDADE.

Por amor à vida se ama a eternidade, a vida eterna, independente da luminosa, inigualável e fulgurante passagem do Cristo.

Esperar vida eterna. Por quê?

A vida é nosso maior bem material, o máximo valor, dela decorrem todos os outros, por isso é o mais protegido pela sociedade através de suas leis. Um mísero mendigo ou o mais poderoso homem do mundo querem da mesma forma suas vidas preservadas. O temor de perdê-la é o mais significativo temor. É fácil entender a vontade de ter uma outra vida que não se perca, eterna. Ela nos foi prometida por Deus e seu Filho se vivermos segundo a lei moral. São princípios e desígnios maiores. Antes de tudo ficar vivo é a maior importância, o desfrute de aspirar felicidade, remota e fugaz, mas visada e perseguida.

Mas não bastaria a finitude que traz a calma e a paz?

Não seria a cessação da vida o eterno prometido, essa paz e essa calma, exclusivamente, sem mais existência de dores e sofrimentos, o bálsamo da placidez?

A eternidade não seria o simples acabar com os tormentos, as vicissitudes todas da vida que trazem angústias, decepções, confrontos, infelicidades em geral, e nela terminam, inexoravelmente, pela morte, embora felicidades muitas tenham nos visitado?

Não seria essa a mensagem do Pai? Sua Casa a mera paz onde nada mais se tem de dores e horrores, sendo paz e tranquilidade?

O espírito, o sopro bíblico não incorporaria a planicie do “não ser”, imune ao atingimento de todos os sofrimentos, a calma do “nada”?

As aparições de Nossa Senhora ratificando essa paz da Casa de seu Filho, em seus templos sentida, não seria o alto da montanha? O espírito paira na névoa do invisível, são assim seus traços definidos na indefinição.

Crer no desconhecido tem vários caminhos. No desaparecimento pela morte está a calma absoluta, para sempre, eternamente, não se pode negar, de forma alguma.

Em outra visão esperam-se paisagens indescritíveis e miríficas em cores maravilhosas, o decantado céu de todos os sonhos, ou há o inferno tão candentemente descrito por Dante Alighieri na segunda maior obra da literatura de todos os tempos.

A paz espiritual, difícil de ser encontrada em nossa passagem corpórea, evidentemente não se encontra disponível como o que oferta a humanidade em seus desdobramentos de criativos pensamentos celebrizados. Não está nos livros de autoajuda, pobres de inventiva, sequiosa e febrilmente tragados, na literatura de escol em geral que atravessou os tempos, nem nas religiosidades todas em sua múltiplas crenças, a não ser em alguns monásticos que investiram no despojamento total, pode-se dizer, da vida corpórea, dela se retirando.

A paz está na calma da eternidade, é sem dúvida a exclusiva verdade que nos passou o Filho de Deus, de hermenêutica áspera de enfrentamento exegético, que faz sofrer e crescer, que intimida e encoraja, que interroga e se ausenta de respostas inteiras, que se submete e não encontra o senhor da razão absoluta, que teima na procura onde se abrem inúmeras estradas.

Já pertencemos à eternidade se exercemos amor. Na vastidão da voragem temporal eternidade e amor estão juntos ainda que parados na escala do tempo, têm afinidade na imensidão do espaço, como um relógio, que mesmo parado tem hora certa duas vezes em 24 horas.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 11/06/2010
Reeditado em 13/06/2010
Código do texto: T2314334
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.