FAMILIA


     A Família é, para este que vos escreve, um dos pilares principais da coesão de nossa civilização. Acredito fortemente, ser a família, o mais forte e resistente pilar, aquele que pode ser de maior valia na busca de uma sociedade mais digna, de uma humanidade mais justa, de uma justiça mais ética e de uma civilização mais Humana. Parece-me também óbvio, que existem outros pilares, entre eles a própria AMIZADE, alem das associações sociais, em grupos diversos, de nossos entes viventes. Somos seres sociais, por isso os eventos que sustentem a união de grupos estáveis, são deveras marcantes e estruturais em nossa civilização.

     A amizade é um espaço aglutinador que dá vida própria à convivência. A amizade apesar de ter um alcance curto, possui uma força elástica e plástica muito consistente em nossa sociedade. A amizade nos dá uma força, própria e social, marcantes.

     Com Amigos somos mais fortes, somos mais naturais e sempre somos mais completos. O laço de amizade pode unir seres humanos, como se próximo estivessem, mesmo que a distância física entre eles seja uma verdade. A Amizade tem alto poder de força relacional direta, mas baixo poder de dispersão social. A força da amizade dissolve-se rapidamente quando imiscuída por toda a sociedade. Nos moldes da força gravitacional, que tem sua força de atuação diluída rapidamente, tendo seu poder de atuação diminuído inversamente proporcional ao quadrado da distancia, a amizade, não fisicamente avaliada, mas mentalmente interpretada, possui sua ligação social também diminuída inversamente proporcional ao quadrado do numero de pessoas que incluímos no universo que nos cerca. Amigos, temos poucos, porem entre estes a força da amizade é muito grande. A sinergia é real entre os amigos, mas tão logo nos distanciamos dos que escolhemos por amigos, a amizade se transforma em coleguismo, depois em simples companhia, e finalmente depois, tornam-se estranhas, as outras pessoas com que convivemos.

     O Amor, também é um forte sustentáculo, mas possui uma dispersão populacional menor ainda do que a da amizade. Apesar de ser um elo muito mais forte que a amizade, no tocante a capacidade de aglutinar interesses coletivos e sociais, é ele, o Amor, uma força que envolve muito menos interfaces humanas. Normalmente temos mais amigos, do que pessoas pelas quais temos verdadeiro AMOR. AMOR de doação total, AMOR de regozijo pela felicidade do próximo, AMOR que nos faz ser unos em vida, com o ser vivente que escolhemos como merecedor e unos principalmente com o espírito mental mágico que nos enlaça, quando verdadeiramente amamos.

     O Amor deve ser dividido em pelo menos três diferentes interações humanas.


  • Existe o Amor que une pessoas, sejam elas de que sexo for, em uma camada de energia pura, e que congregam os envolvidos em uma espécie de aura especial que nos faz parceiros, cúmplices, mentores, diretores e dirigidos. Amor este que dignifica o ser humano que nos é natural, Amor este que nos faz unos, mesmo vivendo em diferentes corpos materiais. Amor que enfim nos envolve na união e na separação. Este tipo de AMOR leva a um laço fraterno de união verdadeira.


  • Existe o AMOR que geralmente envolve os familiares mais diretos, parceiro e parceira, pais e filhos, e também os amantes verdadeiros, sejam eles de sexo diferentes ou iguais. Este amor é o de maior intensidade social. Somos programados pela evolução para nos aliar instintivamente com nossos parceiros genéticos, ou com aqueles que selecionamos como nossos parceiros. Parceiros estes que não necessariamente se ligam somente como amantes, falo também de possíveis filhos, entre estes os adotados.

  • Existe finalmente o mais fraco dos amores, aquele que transmigrado em amor fraternal, é na verdade fruto de um sentimento, a maioria das vezes indomável, que é o da paixão. Este amor, mesmo sendo o mais forte de todos no sentir e no experimentar, no tocante a nossos sentimentos, tem como fraqueza, a cegueira a que ele nos leva. Neste tipo de AMOR enxergamos pelos instintos, o que deveríamos perceber pela razão. Este amor, dependendo da opção sexual de cada um de nós, pode ou não envolver sexos opostos. Este amor é voluptuoso, carnal, vibrante, mas vem datado pelos nossos hormônios. Ele durará em media de três a 8 anos, em alguns casos menos ainda. Ou conseguimos passar para o amor do tipo imediatamente acima, ou ele tenderá a se esvaziar, a cair no vazio sentimental, e daí até sua extinção total será um pulo.

     A FAMÍLIA é, como o AMOR e a AMIZADE, a mola mestra mais poderosa para o encontro de uma estabilidade social e humana. A Família é uma espécie de goma que nos envolve, agrupando-nos em torno de um ideal comum, e dá a este relacionamento de convivência e respeito, o mais forte de todos os laços em nossa sociedade.

     A família surge com o filho, é o filho, a força motriz que une e direciona a família. Uma família sem filho, é por conseguinte uma não família. Um casal apaixonado, vivendo juntos, é lindo, é justo, é digno, mas não é uma família. Por outro lado uma mãe que cria o seu filho, sozinha, ou um pai que faz de seu filho, mesmo que vivendo sem a mãe, seu elo de referência, são famílias. Por mais forte e belo que possa ser um verdadeiro amor entre dois seres enamorados, por mais apaixonante que seja este relacionamento, é muito pouco perto da força e da grandeza do amor pelos filhos.

     É este espectro de vida, de energia pura, da mais natural vontade mental, que age sobre nosso ser, mesmo antes de seu nascimento formal, que emoldura e dá vida a família. Assim a família é o berço de nossa humanidade e de nossa civilização. Descobrimos o AMOR, entre seres equilibrados, na família. Para que possamos distribuir AMOR, temos que tê-lo encontrado, descoberto e vivenciado. É na família, pelo Amor de nossa mãe, que primeiro descobrimos a força maior do AMOR. Pelo Pai também somos inundados desta experiência, mas é no contato inicial e continuo com a Mãe que primeiro descobrimos o que é verdadeiramente AMAR.

     Vamos nos abstrair por alguns instantes. Tentemos deixar de lado todas as atribulações do dia a dia e nos foquemos em uma rápida viagem pelo tempo ao nosso passado.

     É mais ou menos fácil imaginar porque as primeiras sociedades foram patriarcais. A família ditava a união de interesses e de estratégias de vida. O PAI, para sofrimento da mulher, que verdadeiramente deveria ser o elo maior em uma sociedade, subjugou esta, pela força física de macho dominante. Macho alfa que angariava sobre si vários privilégios, inclusive os maritais, e que centrava assim o elo das primeiras sociedades. Foram patriarcais estas sociedades, não por acaso, mas porque era a família o que os dava força e coragem para lutar. Defender os seus, faz parte dos insumos naturais que a evolução nos presenteou.

     A família ao longo do tempo, foi marcante para a sociedade, e ainda o é. Não espero que esteja sendo interpretado como defensor do casamento indissolúvel. Eu pessoalmente acho que devemos, dentro de limites [éticos e humanitários], buscar manter o casamento consolidado. Não quero dizer que acredito que o mesmo não possa ser dissolvido. É claro que qualquer casamento é passível de desenlace, mas se deste casamento, ou de qualquer relacionamento, mesmo que a margem do casamento, leve a filhos, ai estará uma nova família surgindo, e mesmo que ocorra uma separação entre as partes, a família estará criada.

     É esta célula, a célula mater de nossa sociedade. Física, cultural, mental, espiritual ou de qualquer outra forma, o enlace familiar estará ai para sempre criado, e nosso eu saberá disto e será fortemente impregnado com este sentimento de família.

     É na família, equilibrada, que damos nossos primeiros passos. É na família que aprendemos nossas primeiras obrigações, nossos limites, aprendemos a dividir nossas posses com nossos irmãos. É na família que desenvolvemos nossa arte de relacionamento, desenvolvemos também nossa capacidade de podermos crescer e aprender a ser humilde, a ser justo, a ter visibilidade da ética como algo possível e verdadeiro. É com a família que temos nossos primeiros embates, embates estes necessários para nos dar noção de limites e de identidade própria.

     Muitas crianças perderam este referencial e o seu significado subjacente. O reflexo então é uma sociedade injusta e desequilibrada. Devemos assim investir em recriarmos laços familiares verdadeiros e equilibrados, e talvez assim a sociedade possa dar mostras de que, ainda, nem tudo está perdido. Não falo de um falso moralismo torpe, mesquinho, apequenado, cheio de preconceitos e defendido pelos falsos profetas. Não falo de um conceito de família distorcido, repleto de dogmas, e movidos a falácias do tipo o que deus uniu o homem não separa. Falo de uma família real, daquela com F maiúsculo, seja ela de pai, mãe e filho, sem pai ou sem mãe, mas sempre com filho. Sejam filhos legítimos, adotados, ou dos dois tipos. Sejam estas famílias heterossexuais, bissexuais, ou homossexuais, desde que repletas do mais puro AMOR. Sejam estas famílias, entidades filantrópicas sérias, sejam grupos de apoio as crianças, mas sempre com crianças, pelas crianças e para as crianças.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 11/06/2010
Reeditado em 11/06/2010
Código do texto: T2314308
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