Celebração da cultura em fogo brando
A gastronomia é um ramo que abrange a culinária, as bebidas, os materiais usados na alimentação e, em geral, todos os aspectos culturais a ela associados, conforme ensina a wikipédia, enciclopédia livre da internet. Em Itabaiana, temos um gastrônomo formado, homem que tem se dedicado a essa arte dos sabores. É o nosso Luciano Marinho, dono do Café Sivuca e de um restaurante.
Luciano Marinho é filho do grande itabaianense Otoniel Marinho, lojista na praça e homem de grande projeção na sociedade local, infelizmente já extinto. Luciano confidenciou-me que está empenhado na pesquisa de um manjar específico, uma broa especial que era produzida por dona Margarida, antiga vendeira no mercado velho. Ele também anda atrás das receitas do famoso arroz doce de Luzia, uma doceira afamada na cidade, nos idos da década de 50.
Na lista dos manjares da culinária itabaianense consta ainda o bolo de seu Felipe e seu famoso requeijão. Da Rua da Boca da Mata saíam a broa e o sequilho incomparáveis de Antonio Felizardo, outro artista do fogão especialista nessas comidas, produtos da culinária famosa de Itabaiana que passa de pai para filho.
Esse cozinheiro exemplar prepara em fogo brando a preservação do nosso patrimônio imaterial, que vem a ser as formas e expressões de uma comunidade, suas festas, seus santos, danças, comidas e superstições. Esses bens culturais precisam ser protegidos através de políticas públicas de inventário e registro, para que não desapareçam com o passar do tempo. Enquanto isso não é feito, demos graças aos santos populares por termos pessoas sensíveis e conscientes do valor desses bens imateriais. É urgente que a Câmara de vereadores vote uma lei declarando como nosso patrimônio imaterial os quitutes de dona Margarida e Antonio Felizardo, entre outras coisas importantes para a cultura itabaianense.
O dramaturgo pernambucano Adriano Marcela afirma que “o ato de comer permite que as pessoas exerçam suas práticas de comensalidades, de interação social, regadas aos sabores dos símbolos que reafirma quem somos enquanto moradores de uma comunidade.” Nesse contexto, o picado de cabeça de porco de dona Carmem, o munguzá de Cera, a broa de dona Margarida, o doce de Chico do Doce e a tapioca de dona Inácia representam bens imateriais que devem entrar em um livro de tombamento. A galinha de cabidela com macaxeira, o sarapatel, o guisado conjunto das carnes de boi com porco, cuscuz ensopado com leite de coco e tantos outros pratos deliciosos eram feitos por dona Zefinha Correia, avó de Beto de Zé de Paulo. Seu banco na feira (armado no "bacurau") era um dos mais frequentados. O sanduíche, os roletes, as cestinhas de castanha e chupetas açucaradas eram lanches vendidos na frente dos circos, lapinhas ou comícios. Que viagem!...
Quem come a comida de Luciano não reconhece, mas está ingerindo um cardápio de cidadania/gastronomia caracterizado pelo seu amor à terra natal e zelo por nossas tradições. Esse jovem Chef ajudou a profissionalizar a atividade de cozinheiro e dignificar essa profissão em nossa terra. Hoje a gastronomia é um curso universitário da moda, fonte de renda insuspeita para pessoas semelhantes ao Luciano Marinho, bom no que faz e ótimo no que pensa. O menu sai das mesas e vai para o rol do nosso patrimônio imaterial, imortalizando a culinária dos nossos avós.