A primeira copa do mundo
Sempre gosto de obervar esse fenômeno cultural que é o de satisfazer a necessidade infantil de ser o centro das atenções. Normalmente tal necessidade precisa ser compensada na infância, quando isto não acontece ocorre uma verdadeira luta entre o sentimento de rejeição e o de auto afirmação. O ritual prossegue dentro da sociedade na vida adulta. Já não vivemos tanto em grupos coesos onde a ação de construir algo para o grupo mereceça louvação tão elogiosa. Nos inclinamos para esgotamento das nossas potencialidades de modo mecânico produtivo. Milhares de pessoas dão tudo de si desejando ouvir apenas um comentário elogioso, mas ele não vem, nunca vem, e assim ficamos entregues ao vazio da existência. O fenômeno chega ao campo espiritual com a licença poética da generalidade: Deus te ama. Portanto alguém em algum lugar lhe concede alguma atenção.
Penso que a arte, muito do que se passa com ela, guarda um desejo profundo de mostrar algo para ser recompensado subjetivamente como a lógica do texto é a sua compreensão. O incansável trabalho da doutora Nise da Silveira, no Museu do Inconsciênte (RJ) em parte era composto do elogio dos terapeutas sobre qualquer garatuja lançada em papel como modo de comunicação, às vezes de algum catatônico encerrado muitos anos em si mesmo. O poder do elogio sincero é motivador porque carregamos infantilmente um desejo de ser querido socialmente. É um amor pelo poder da importância num aspecto maior, nem sempre alcançado pela via mais simples do mundo:gostei, não gostei. Em condições rudes as pessoas nada recebem da exterioridade e ela é tão alarmante que o poço interior seca. Já não há como crer nessa fábula inicial. Estamos tristemenete sombrios, ligados a vida como ao silêncio das vozes que já não se ocupam em seduzir, dar sinais de que podemos ser abrigados num abraço ou mesmo beijo, ou menos ainda, numa palavra distante, todavia poderosamente cordial.
Compreender e elogiar são coisas distintas. Tomo como fase essencial da recuperação interior a busca de algo que nos leve a constatação da qualidade inerente a pessoa humana. Tarefa difícilima a sós, mas possível. Observem como todas as crises surgem da concentração de péssimas qualidades que se desenvolvem de modo duradouro sempre se aglutinando. Juízos são acumulados por hábeis detratores profissionais empregando a técnica de acúmulo das maldades sobre a infelicidade. Inocentes são destruídos pela compulsão fácil dos desenhos bem garatujados pela mão da iniquidade. Se acumulam. Nada resta. Não resta mais o menino com a folha de papel na mão procurando a professora para pedir uma avaliação. E ela ao contrário de mandar o menino chutar bola para ganhar um emprego milionário no futuro, revela com atenção afetiva um elogio, apenas superado pelos pais: Ótimo! Mesmo sabendo que está errado, que ainda está feio, que ainda falta muito para que ele possa escrever a história da vida. (Meta que os estudantes parecem ter esquecido). Talvez por isso o gol seja tão importante. Pelo destaque do mérito reconhecido. Como criança rodando balão vermelho numa roda de adultos esperando apenas que digam: que bonito!