Casamentos
Casamentos são coisas diversas, ou pode ser várias coisas. Há casamentos de todos os tipos. Casamentos abertos, fechados, livres, cômicos, ridículos, desproporcionais, enciumados, enlouquecidos, etc. Duvido que alguém já não tenha visto um de cada tipo. Existem certas verdades que precisam ser analisadas mais de perto. Não basta achar, meu. Isso qualquer um acha. Tem é que casar. Aí é que a jeripoca pia e que se entende como a gente é, e como o outro é e, o pior de tudo, o outro também descobre como ele é e como nós somos. Cai a máscara. Casamento é a arte de estuprar a hipocrisia, ainda que se mantenham dentro dela por conveniências sociais. Dura uma lua-de-mel, um pouco mais, mas uma hora, não demora muito, a gente vê que não conhecia a pessoa com quem casou. Não que chegue a ser um estranho, mas também não fica muito longe disso.
Os problemas do casamento começam no banheiro. Feliz é o casal que tem condições de cada um ter seu quarto e seu banheiro. No quarto ele já prega um pôster do Michael Schumacher com sua miniatura da Ferrari e a bandeira do Timão com uma camisa do “Gordonaldo” do outro. Seu guarda roupa só tem o extremamente essencial porque, via de regra, homem não tem mania de guardar tranqueiras nem roupa que não usa. Como ainda, de um modo geral, não são eles que arrumam seus armários, costumam estar tudo arrumadinho. Eu, escravo de mim, tenho que arrumar o meu eu mesmo. Mas se não der para ter um quarto e um banheiro para cada um , projetem um banheiro com dois chuveiros e dois “vasos”. Assim ela pendura a calcinha na torneira dela, e você pode ser feliz enquanto ela lê a revista CARAS com atenção, porque isso é quase imprescindível.
Dormir é morrer. Não se vê nada, não se escuta nada, não se está ali. No sono pesado podem entrar e sair à vontade que o morto continua inerte. Já o despertar é o ressuscitar para uma nova vida. Não há nada mais lindo que um casal se refestelando de amor e esfregação enquanto estão acordados. Acho mesmo bonito e comovente, e quando eu tinha essas oportunidades eu achava o máximo. Mas dormir juntos? Ficar dois mortos na mesma cama? Um chutando o outro? Fora os flatos (eu ando tão educado que nem peido eu escrevo mais), roncos, virações, etc? E quando o cara enche a cara e vai dormir com aquele cheiro de gambá bêbado? Só o casamento é capaz de proporcionar um “caldeirão do inferno” desses.
Casamento, seja homem com mulher, homem com homem, mulher com mulher, patrão com empregada, seja lá o que for, precisa de um tempo de “estar consigo mesmo”. Até casamento de amigos de longa data precisa dar um espaço de algumas datas para o outro poder respirar. Inclusive para poder pensar se quer continuar casado. Que merda de casamento é esse que não dá nem tempo de pensar se casar é bom? Tudo bem que casamento de um modo geral gera filhos e outras responsabilidades, mas isso não implica que é preciso se manter sofrendo ali ao lado da jararaca, ou do cafajeste, só porque casou e tem filhos para criar. A sociedade já ajeitou até a união estável, que é o casamento sem papel, mas que não altera as responsabilidades civis. Tem que pagar pensão ou vai ver o sol nascer quadrado.
O único defeito é que se comemora com fartura o casamento e nada de se comemorar o divórcio. É uma aberração. Para a prisão, faz-se até empréstimo. Na hora da liberdade, nem um churrasquinho? Tá certo que os advogados levam tudo, mas ao menos uma cervejinha deveria ter.
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