Botijão de gás
João do Amor Divino de Oliveira acordou com os gritos da mulher dizendo que o gás da cozinha tinha se acabado e ele tinha que se levantar e ir comprar o gás ou então não tinha café para ele ir pro emprego.E nem para os meninos irem para escola.E que o mais menor já estava chorando porque ele toma gomoso todo dia de mamhnã cedo,Que ele se levantasse, lavasse a cara e aviasse, pegasse a bicicleta e fosse comprar o gá, deixasse de ser preguiçoso.
Com tanta zuada na cabeça, João do Amor Divino de Oliveira, ainda com a boca fedendo, disse que o dinheiro que tinha no bolso era para comprar o meio quilo de carne e o feijão do almoço e se comprassse o gás não tinha carne e ela disse que se comprasse a carne como é que ia botar no fogo se não ia ter gás para o fogo ? João do Amor Divino não quís bater boca com a mulher, pegou o botijão de gás, amarrou na garupa da bicicleta, passou por debaixo do pé de goiaba, tirou uma "de vez",mastigou, deu três reais para a mulhe comprar o pão e o café, passou a perna na bicicleta e saiu para ir comprar o bendito gás porque sem ele não tem café e nem almoço. Abriu o portão e ainda ouviu o filho reclamando que a pasta de dente tinha se acabado.Não ia para a escola sem escovar o dentes, Droga ! Todo dia falta uma coisa! Empregado público, o dinheiro acaba antes do mês, agora tinha entrado num empréstimo e a coisa piorou porque a mulher cismou de compra uma geladeira, o desconto está vindo no contra-cheque, agora ficou menos dinheiro para as despesas. E o Estado pagando uma mincharia. Bom, tinha que comprar mesmo o gás.Saiu.
Montou na bicicleta e foi comprar o bendito gás porque sem gás não tinha café, não tinha almoço. O depósito de gás liquefeito ficava ali no balão do São Cristovão, muito movimento de veículos, entrada e saída da cidade.
João do Amor Divino de Oliveira, funcionário público estadual, coitado, casado, pai de três filhos, foi atropelado e morto no Balão do São Cristovão. O veículo atropelador, um caminhão cheio de botijões de gás liquefeito, trazia a carga para fazer a enrega no depósito do Balão do São Cristovão. O caminhã, desgovernado, bateu num poste, os botijões cairam da carroserie.O botijão do João se misturou com os outros.