AS PREVISÕES MAIAS
No feriadão de Corpus Christ eu poderia ter escolhido ir para as montanhas capixabas ou a algum outro lugar, mas como “prazer” não deve estar acima do “dever”; decidi que era melhor planejar aulas e corrigir trocentos trabalhos e provas de meus alunos.
Ocorre que eu não sou de ferro, por isso aproveitei, também, para dormir bastante e para assistir a dois filmes sobre os quais muito ouvira falar: Avatar e 2012. Por incrível que pareça, descobri que ambos têm algo em comum.
O primeiro mostra, primordialmente, um conflito entre os ideais do capitalismo (representado por militares da Terra) e da preservação de um povo (azul) primitivo, habitante numa lua chamada Pandora.
Não lhes entregarei o enredo e nem o desfecho, porque acho isso o fim da picada. Por ora, digo-lhes que o filme me fez depreender que se os maias e os astecas fossem Avatares, os espanhóis teriam se lascado quando chegaram aqui na América e decidiram exterminá-los para roubar suas riquezas. Acho, porém, que historicamente esses dois povos não sobreviveram por dois motivos:
a) Eles não eram santinhos e quem quiser saber melhor sobre isso tem de assistir a “Apocalypto”, dirigido por Mel Gibson.
b) o destino deles não foi decidido por James Cameron (o diretor de Titanic e de Avatar), que poderia tê-los poupado. Eles acreditavam e esperavam, há muito tempo, a chegada de um deus a quem chamavam Quetzalcoatl. Então, em 04 de março de 1519, quando Hernan Cortes chegou à terra habitada por eles, numa esquadra com 11 navios, 600 soldados e 16 cavalos; os nativos os confundiram com a divindade esperada e pagaram com suas vidas por esse engano.
Já “2012” empolga por reproduzir o velho modelo americano de filmes de ação: o chão vai se abrindo, mas o carro do protagonista consegue passar; a pista está se acabando, mas o avião onde se encontra o artista principal consegue decolar; a arca salvadora está quase partindo, mas os bons se salvam...
O enredo baseia-se numa espécie de profecia feita há centenas de anos, adivinha por quem? Isso mesmo, os maias! Eles acreditavam que o nosso planeta já teria passado por quatro ciclos solares (num deles os dinossauros teriam ido para as cucuias) e que a sua civilização era a quinta iluminada pelo sol.
Segundo suas previsões, os ciclos acontecem a cada 5.125 anos, o último teria acontecido em 3.113 a.C., e, portanto, o próximo acontecerá em 2012. Eles previram que no dia 22 de dezembro desse ano o sol mudará a sua polarização, após receber um raio sincronizado com origem no centro da nossa galáxia. Isso dará origem a uma série de explosões solares iniciando a transformação do planeta.
O que os cientistas afirmam, entretanto, é que no centro da nossa galáxia existe um buraco negro supermassivo, e que um determinado alinhamento dele com os planetas de nosso sistema originará uma mudança do campo magnético terrestre, desencadeando maremotos, tsunamis, vulcões, terremotos....
Estejam certos os maias ou os cientistas, pertinho do natal de 2012, apenas aqueles que forem éticos (estima-se 2% da população da Terra) se salvarão. Isso significa que as pessoas que buscam suas felicidades sacaneando os outros, posando de bacanas (mas sonegando impostos), roubando abertamente, traficando, abusando dos mais fracos e dos indefesos... Se não virarem seres decentes, vão todas para o beleléu!
É claro que convém pensar se devemos acreditar nas previsões de um povo que foi capaz de confundir seu deus (Quetzalcoatl) com seu algoz (Hernan Cortes), não é mesmo?
Porém, se as previsões acima se concretizarem, eu fico pensando em como eu vou me sentir se eu sobrar e se todas as pessoas que eu amo morrerem (vai que elas são mais pecadoras do que eu?!). Acho que eu vou ficar muito triste e nem vou sentir prazer em ficar tocando harpinhas e saltitando de nuvem em nuvem...
Como eu não tenho vocação para fazer o mal, acho que o jeito vai ser eu começar a infringir os meus princípios. Tá decidido! Daqui para frente eu só vou assistir a filmes piratas.