Analfabeto em Inglês
Ainda no início da minha profissão de radiotelegrafista, que consiste na transmissão e recepção de mensagens através do alfabeto “Morse”, cujas palavras são ditadas letra por letra, podíamos transmitir ou receber em qualquer idioma, mesmo sem entender o significado nem pronúncia das palavras. Entregávamos as mensagens no protocolo, sem a necessidade de fazermos a leitura, que ficava a cargo do destinatário.
Pela urgência do assunto, o chefe me recomendou que se uma determinada mensagem chegasse durante a sua ausência, horário do almoço, eu lhe telefonasse. A mensagem era sobre uma reserva de passagem aérea. Diante da confirmação, tive de ler o nome da companhia: PANAIR. E assim me expressei: “Doutor, a passagem já está reservada pela PA-NA-IR”. Isso mesmo, soletrando em português. Ouvi a voz do Doutor, satisfeito com a confirmação, mas nem tanto com a minha pronúncia. “Sim, meu filho, na PANÉR.” E corrigiu a pronúncia do AIR em Inglês. Nesta sim que eu realmente “paguei o mico”, dando a entender ao chefe que era mesmo analfabeto em Inglês. E como era! Na minha época de ginásio a moda era o Francês, que também não aprendi. O tempo passa e eis que “o homem do PA-NA-IR” inventa de estudar Inglês, chegando ainda a ensinar o idioma no ensino fundamental. E, como dizem que “na terra de cego quem tem um olho é rei”, as pessoas de fora pensam que a gente sabe o idioma, só porque recebeu o nome de professor. Ledo engano. Fui contemplado com uma viagem a Oxford para acompanhar uma pessoa da família, como se eu fosse o intérprete. Aí, sim, descobri, mais uma vez, que ainda continuo analfabeto em Inglês.