Meu pobre vocabulário
Ainda hoje, quase meio século depois, a palavra RENÚNCIA me faz lembrar o presidente Jânio Quadros, “o homem da vassoura”, que venceu as eleições para o Marechal Henrique Teixeira Lott, “o homem da espada.” Tendo assumido a presidência da república em 31 de janeiro de 1961, eis que no dia 25 de agosto do mesmo ano renuncia ao cargo, sob alegação de “forças ocultas”, uma vez que toda a nação desconhecia os motivos. Era uma sexta-feira à tarde, quando eu me encontrava numa estação radiotelegráfica, na condição de aprendiz, cujo termo era chamado de “praticante” pela nossa categoria. Chega ali um funcionário da empresa, com jeito de assustado e me pergunta: “É verdade que Jânio Quadros renunciou?” E vai logo pedindo que eu ligasse o rádio para ouvir as notícias. Ainda bem que nem esperou pela minha resposta. Confesso que não sabia o significado de renunciar. Foi a partir daquele momento que passei entender, em razão da sequência de informações que o noticiário nos transmitia. Não cheguei a “pagar o mico” pela minha ignorância, porque não me apressei em responder o que não sabia. E aquele funcionário, já com maior domínio da nossa rica língua portuguesa, não percebeu a minha pobreza de vocabulário.
Assim, a lembrança não ficou apenas da renúncia do presidente, mas daquele assustado funcionário que vinha em busca da notícia, achando que eu já deveria estar sabendo, uma vez que estava praticando numa estação de telecomunicação, obviamente a fonte de informações. E, daquele tempo até hoje, quanta RENÚNCIA...!!!
Vivemos a renunciar muitas coisas na vida, para que possamos viver em paz. Nossos desejos devem ser limitados à nossa capacidade de realização. Não chegaremos às estrelas, se nem à lua ainda alcançamos. Agora, em termos de vocabulário, acho que ele melhorou nesse período. Será?