Mudar é preciso!?
Dia desses um amigo de queridíssima estima veio me visitar para me inteirar de algo. Não faça caraminholas na sua cachola, como dizia minhá saudosa nona. Nada de fofoca ou coisa e tal, alfinetaria a minha avó. O amigo trouxe um tal de tablete da Apple para eu conferir com as mãos e os olhos. Apple? Isto mesmo, nada de fruta comestível. Apesar que, se pode comer com os olhos! O tal do aparelho funciona como leitor de e-ebooks.! E-ebooks? Um tal de livro eletrônico em formato digital e não em papel como no livro tradicional. Bem! Não vou divagar agora sobre as dificuldades da minha leitura na tal da tela do livro eletrônico. Iluminada! Meus olhos fotofóbicos com cinco minutos petrificados no texto empurraram lágrimas aos borbotões.
Mas, como voltando aos ditos da nona: “em terra de cego, quem tem um olho é caolho”; resolvi assumir o risco da perda da amizade ao perguntar: “E a tal da reforma ortográfica já está valendo no seu e-ebooks?” A resposta não veio. O amigo resolve procurar informações a respeito e me comunicar depois. Fico na espera. Amizade continua a mesma.
Como não sou boba nem nada vou até a estante, acaricio os meus livros de papel, e aperto um entre os meus dedos. Lembro do meu outro amigo ao me presentear e leio a sua dedicatória:
“Querida Ana: Shakespeare é o “criador do humano”. Aceite esta lembrança como prova de estima e gratidão”. Richard Mathenhauer
Divago com a leitura de “Sonho de uma noite de verão”, logo na segunda página ao ler :
” A Camilo Castelo Branco_ “O opulentador da linguagem vernácula é da Literatura Portuguesa._ oferece com estreito abraço. O seu Castilho.””
O livro com suas páginas amareladas comove o meu olhar de leitora apaixonada. Lágrimas volejam por meu rosto. Não, caríssimo leitor, estas não sáo lágrimas movidas pela doença dos olhos, não! São de felicidade ao pegar entre os dedos e folhear uma edição lusa do “drama em cinco actos e em versos”, shakesperiano.
Ah! isto mesmo, “ACTOS” com tradução de Castilho. Pois é, o belo exemplar, está todinho publicado fora de moda ou démodé, ou...ou, démodê, ou ainda, demode . Mas, como a sua editora em 1986, nem sabia da nova reforma ortográfica, foi publicado na lingua vernácula obedecendo a reforma ortográfica da época de antanho. Mas, tenha certeza, que este belo exemplar e os outros da minha coleção não estão desatualizados aos meus olhos. Estarão sempre comigo, enquanto eu existir. E vendo alguns acontecimentos recentes aqui na minha terrinha vou agora mesmo rabiscar no meu testamento uma nova vontade:
“Os meus livros depois da minha ida para a biblioteca da eternidade devem ser doados a uma biblioteca terrena. Por favor, não o deixem ao relento em uma caçamba qualquer.”
###" Esta crônica acontece por ler vários comentários sobre a utilidade ou a inutilidade da nova mudança ortográgica. Deixo aqui o meu parecer depois de ler e estudar com minha orientadora sobre o tema."