Pense no Haiti
Já diria Caetano: “Pense no Haiti, reze (...)”. Corpos pelo chão da sala, sob restos de concreto que não suportaram a força da raivosa Mãe-Natureza. Concreto frágil ao despencar, difícil de reerguer. O concreto da alma de tantos que viram a morte e que viram suas vítimas, dilacerado. Forças encontradas não-sei-onde. Não sei como imaginar de que forma. “Reze”, diz a letra da música. Creio que só assim os sobreviventes têm agüentado com a própria vida.
Não é para todos agüentar aquele cenário de pobreza e desconsolo. Como ter certeza que você, eu, caso sobrevivêssemos, não adiantariam o trabalho da morte e num simples passo lançaríamo-nos pelo primeiro lugar alto que encontrássemos. Sim, dá a impressão (pelo menos a mim), de que um lugar como esse, com esses que o habitam, é formado por fortes, acima de qualquer coisa. Milhões em poucos metros quadrados. Milhares mortos. Mas com vida em alguns dos seus cantos, esconderijos.
É surreal. É “inconformante”.
Demorei um bom tanto para organizar o que pensar sobre o que ocorreu a eles. Nem sei se o que pensei, e o que estou a escrever aqui, correspondem ao que eu pensaria se estivesse lá. Mas o mínimo eu pensei.
“Pense no Haiti”.