Crônicas da Esquina ( Figura de bar )

FIGURAS DE BAR

Peça importante de um bar, a figura do “ aba “ é, sem dúvida, a mais indispensável aos que bebem só e detestam fazê-lo. Sempre solícito e simpático, o “abeiro “ é capaz de discorrer sobre todos os assuntos ou, se for o caso, ser todo ouvidos e atento como a coruja. Manso e humilde, raramente discorda daqueles que lhe chama à mesa e, comensal educado, só se serve do que lhe é oferecido. Free Lance em tempo integral, seu papel é ciceronear os solitários, os tristes, mas os desavisados também. No entanto, “abeiros “ desse quilate são raros e episódicos como um raio que não cai duas vezes num mesmo lugar. Sempre desapercebidos, passam despercebidos da maioria dos clientes que bebem em paz a sua cerveja.

Os “abeiros “ mais comuns são inconvenientes e, como no samba do Paulinho da Aba, imortalizado pelo Martinho, penduram-se e tomam liberdade e confiança indevidas. Rondam a esquina à espreita da mesa certa. Tal qual as hienas que, de longe, acompanham os leões, eles passam ao largo, atravessam a rua e, de lá, analisam os convivas presentes. Estudam-lhes as maneiras, farejam-lhes o humor, avaliam a composição das mesas e, escolhidas as vítimas, adentram o espaço e aboletam-se. O velho Athayde não perdoa:

Ih! Lá vem ele e ainda traz estepe!

Esse é o seu jeito de falar quando o pendura ainda vem acompanhado como se só o seu peso não bastasse.

São impetuosos e, quase sempre, falantes. Resistem aos revezamentos que ocorrem nas mesas, coisa muito comum aqui no Costa. Alguns chegam, outros saem, mas eles ficam. Como são premonitórios, percebem a hora exata da ida ao banheiro, de onde escapolem como verdadeiros ninjas. Reaparecem em outras mesas e o ritual se repete até que, vencidos também pelo álcool, vão trôpegos para casa. Ilesos, só não escapam do faro agudíssimo do Augustinho.

Mas há também no Costa os privilegiados. Estes não merecem a alcunha em questão. Protegidos, podem entregar-se despreocupadamente ao entretenimento com os amigos. São recebidos como membros de uma confraria que protege seus irmãos. Mas nunca os abeiros. A estes, nada! É como se o Augustinho, por trás do balcão, cantasse: “ Na aba do meu chapéu, você não pode ficar.” Pode, Paulinho?

Aldo Guerra

Vila Isabel, RJ.

Aldo Guerra
Enviado por Aldo Guerra em 02/09/2006
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