Um doce momento

Um doce momento

Abro a janela.

Um clarão frio e perfumado ilumina o quarto e deixa luzes em meu rosto.

Um lindo disco prateado vem quebrar a monotonia do firmamento. Que maravilha! Não entendo como alguém não acredite na existência de um Ser onipotente, depois de contemplar um espetáculo desse! A misteriosa lua, quanto mais brilhante, mais linda; quanto mais linda, mais nobre; quanto mais nobre, mais divina; quanto mais divina, com mais magia nos toca o coração.

Gostaria de ser semelhante à lua, poder ver claro e longe com a mesma pureza de intenção e esplendor com que esparge os raios selênicos; de levar a todos os recantos, a suavidade que torna os corações maleáveis, o brilho que existe nos olhos de quem ama, enfim, de envolver o mundo com o véu translúcido e argênteo da paz, esta que se está tornando cada vez mais necessária nos dias de hoje. Para que se alcance a felicidade, é preciso que haja paz. E aqui, na serra, tenho oportunidade de ficar pouco distante da lua, portanto, mais pertinho do céu. Neste momento, sinto muita paz em meu coração.

Até mesmo a saudade esquece de me castigar, de trazer de volta os momentos felizes que me acontecem no período de férias, com minha família, meus amigos, um amor que arranjou um lugar no meu coração, tornando minha vida mais doce, mais perfumada de sonhos. Aqui, neste isolamento de espírito, relembrando os instantes agradáveis que me transportam ao carinho de minha terra, sinto-me uma nuvem sorrateira, vagando pelo espaço, esperando que as horas, os dias, os meses diminuam no relógio do tempo até que retorne ao aconchego do meu torrão natal.

O luar da minha terra é tão suave quanto o daqui, da serra, mas o de lá tem o perfume dos muçambês, das água-pés, dos bouquevilles, das boa-noites, dos bogaris, dos benjamins e das canafístulas da Praça de São Francisco, a minha praça onde vivem meus familiares e eu, quando estou em férias.

Nossa! Nem me dei conta de que, mesmo devagar, o tempo passou. Faz um frio intenso e todas as internas já dormem. Entregue aos pensamentos, passou-me uma ideia curiosa: Será que a Lua é habitada? Seria possível a existência humana num astro que dizem ser morto, sem ar e sem água? Prefiro-a assim. Embelezando e banhando a terra com sua chuva de prata.

Enfim... Oito horas. Enquanto a natureza dorme, a majestosa lua estende seu olhar vigilante como um toque do olhar de Deus.

Fecho a veneziana, seguro o terço. Meus dedos deslizam pelas contas. Confiando-me à proteção da Rainha do céu, despeço-me com saudade, da rainha da noite.

Maria de Jesus

Fortaleza, 07/11/2010

Maria de Jesus
Enviado por Maria de Jesus em 09/06/2010
Reeditado em 25/09/2013
Código do texto: T2309461
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