E POR FALAR EM NAMORO...

Saia xadrez, blusa vermelha. Cabelo num rabo-de-cavalo, brinco de argola. Uma voltinha na frente do espelho. Bonita demais! Satisfeita, ela ganha a rua. Nas pedras, o toc-toc dos tamanquinhos de couro e salto alto. O passo apressado, mas elegante, chama a atenção. Encanta os passantes. Olhos se voltam para o andar cadenciado. Mas ela não enxerga ninguém. Tem destino certo.

Depois da esquina o prédio em construção. É ali que ele trabalha. Assenta tijolos um a um, o dia inteiro. É trabalhador. Não tem medo de sol, nem de chuva. Suspenso no andaime, chapéu de palha e colher na mão. Ela o admira. Há meses levanta paredes. Uma construção enorme! Bem capaz de ser a maior da cidade. Coisa de louco...

Perto do prédio, diminui o passo. Elegância e pressa não combinam. Alisa a saia, ajeita a blusa no cós. O batom saiu? Ai, batom barato, sai à toa! Um truque que descobriu: morde os lábios. No atrito dos dentes, a boca vermelha. Já experimentou no espelho. Dá certinho. Muito bem, vamos lá? Corpo ereto, segue. Mira a ponta da rua, nem aí pro mundo. Altiva, indiferente...

Ele já espera. Sabe da hora dela. Uma festa quando ela aponta. A mais bonita da tarde. Tanta gente pra lá e pra cá o dia inteiro. Ele nem olha mais. Sabe de cor os barulhos da rua. Já enjoou de povo. Mas ela é outra coisa! Perto do seu charme o sol das três é fichinha. O calor que ela traz incendeia. Ele ensaia, se prepara. Solta a voz:

_ Se boneca andasse, eu falava que tô vendo uma!

Pronto! A declaração. Foi isso que ela veio escutar. Tem coisa mais bonita? Uma boneca! Só muito romântico pra dizer isso. Ser boneca é coisa fina. Coração a mil. O tamanco quase vira na pedra do calçamento. Ele falou e ela já ouviu. Agora vai pra casa. Sonhar que é a mulher que ele quer... Só não sabe de uma coisa: naquela noite mesmo ele vai pedi-la em namoro. Mera formalidade. Porque namorar eles namoram já faz tempo...

E que namoro! Bom, mas isso era no tempo que boneca ainda não andava...

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Êssi côntu tá munto bão

Galantiá é côiza bunita

Mais,num pódi falá não

O qui eu faláva pra Rita

Pr'ela eu sempre gritava:

Ocê é o ôvu qui fartáva

Aqui na minha maumita!

(Pedrinho Goltara)

(Goltara, Goltara, não sabe como fico feliz com essa interação que pra mim vale uma joia!)