ILÓGICO
Com o advento da Semana Santa, as famílias se reúnem, seja pelo feriado a ampliar o final de semana, seja pela devoção à páscoa. E o movimento se amplia e disso se aproveitam os comerciantes para ampliar seus lucros, nessa coisa natural da oferta e procura. E a cada ano fico intrigado com um tipo de comércio, obrigatório no período, a se manter a tradição: o pescado. Oscilando entre R$ 10,00 e R$ 20,00 reais o quilo, vários tipos de peixes são degustados no final de semana, em todas as formas possíveis. E, apesar da importância desse alimento na dieta de qualquer cidadão, seu consumo se restringe a momentos específicos, aquém da recomendação pela Organização mundial de Saúde. Seria pelo seu alto custo? Onde mora a lógica dessa situação?
Carlos Alberto, morador de uma cidade de médio porte no sul da Bahia, adquiriu um bom pedaço de terra na região a criar bois de corte, da raça nelore. De pronto desembolsou R$ 100.000,00 reais em área suficiente para criar sessenta cabeças de gado. Pagou todos os impostos devidos, construiu uma casa simples e um curral, contratou dois vaqueiros e adquiriu dois cavalos com suas respectivas selas e demais acessórios; comprou e plantou capim brachiaria, cercou devidamente toda a área e enfim, mais de dois meses depois e ter gasto R$ 25.000,00 reais, tornou-se apto a criar o rebanho. Capitalista, adquiriu o mesmo em forma de bezerros, com média de oito arrobas cada, ao custo unitário de R$ 560,00 reais, totalizando R$ 33.600,00 reais. Quase dois anos (dois anos!) depois, o rebanho cresceu, chegando ao peso do abate e ao momento da venda. Nesse período, ele teve gastos com vacina, ração, salários dos vaqueiros, e mais e mais impostos. Dois garrotes morreram mordidos por cobra. Total de todos esses custos: R$ 22.000,00 reais.
Pouco antes do alvorecer João e Gibinha saíram do Nordeste de Amaralina e pouco mais de dois quilômetros ladeira abaixo, chegaram à praia da Pituba, em Salvador. Imediatamente levaram o pequeno barco à água e singraram mar adentro por quase duas horas. Quase três horas depois, 90 quilos de pescado diversificado em tamanho e estilo já subtraídos do mar, retornam à praia e mal recolhem o barco, uma pequena multidão se forma e em pouco mais de dez minutos, vendem toda a produção, média de R$ 14,00 reais o quilo, totalizando 1.260,00 reais. Em pouco mais de cinco horas, sem terreno, pastagens, ou qualquer outro tipo de contratempo, com apenas um ajudante sem qualquer vínculo empregatício, a R$ 80,00 reais a diária e barco alugado por R$ 100,00 reais a diária, João já pagou seus custos e já está tomando sua branquinha predileta na barraca de Tonho. Dentro em pouco estará em casa. Antes passará no açougue São Tomaz e levará um quilo de carne de segunda a R$ 4,00 reais o quilo. E como a pescaria foi boa, levará também um quilo de carne de primeira a R$ 11,00 reais o quilo. Para a alegria da pobre família. Assim faz todos os dias.