Aí vem, de novo
AÍ VEM, DE NOVO
(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 09.06.2010)
Quatro anos depois da última, uma nova eleição pra presidente. Os caras são tão safados que marcam as eleições pra ano de Copa do Mundo. Assim, até terminar o torneio de futebol, ninguém pensa em mais nada, ninguém se preocupa com inflação, imposto, roubalheira e sacanagem. Finda a Copa, se o Brasil é campeão o governo fatura e ganha de lavada - ganha carta branca e elege todos os seus candidatos. Se a Seleção dá vexame, ficando como vice ou afundando já na primeira fase sem marcar um pontinho sequer, o pessoal esquece a vergonha (somente freiras têm a nobreza de curtir uma vergonha até o fim da vida) e o governo sai de fininho do gramado, diz que tem mais no que pensar, que está cuidando do povo e do País, o pessoal cai como patinho, acredita na conversa fiada e então o governo vai lá e fatura a eleição do mesmo jeito.
O que nos atrasa a vida é essa coincidência criminosa de Copa com eleição. Antes, bem antes, com mandatos de cinco anos - e sem reeleições -, tudo ficava mais fácil: sabíamos que seríamos conclamados a votar nos anos de final cinco e zero e todas as sobreposições não passavam de coincidências esporádicas, seja com Copa, com Olimpíada ou com qualquer outro evento esportivo, de lazer ou lítero-musical que se desenrole a períodos certos.
De verdadeiro nisso tudo, independente de hipotéticas relações entre política e futebol, é que detesto o analfabeto daquele técnico do selecionado. Por tanto detestá-lo, dado o fato de aquele energúmeno e apedeuta se achar o maior do mundo, o mais esperto e o mais preparado só por causa das suas atividades lá longe, bem antes de assumir o cargo, quando é um bobalhão (além de corrupto, ladrão e chefe de um bando de celerados) de quem o mundo inteiro se ri às gargalhadas, humilhando-nos por extensão a todos nós, brasileiros - por odiá-lo de morte é que não aceito nada do que ele diz, faz ou pensa e abomino todos os que o elogiam. Elogios a ele, de bocas respeitáveis e insuspeitas do exterior, não me deixam dúvida alguma de que são finíssimas ironias, requintados deboches jogados na nossa cara.
Por estas e outras é que, assim como milhares de compatriotas que pensam comigo, eu torço com todo o ardor contra a Seleção: para que nada dê certo e possamos provar, afinal, que o treinador é uma fraude, uma farsa, e que ele só estava ali porque muita gente ganhou fortunas com isso.
(Amilcar Neves é escritor com sete livros de ficção publicados, diversos outros ainda inéditos, participação em 31 coletâneas e 44 premiações em concursos literários no Brasil e no exterior)