DESABAFO

Tenho vontade de chorar, hoje. Uma dor imaterial fere meu centro vital, como se um estilete fizesse cortes no meu peito. Tristezas por aquilo que foi, por aquilo que poderia ter sido diferente. Tristeza pelos amores familiares que se quebraram e, hoje, apesar das colagens, não são mais inteiros. É uma sensação de impotência e frustração. É a tentativa de trazer de volta os sonhos dourados da adolescência e a inocência da criança que só necessitava de carinho e alimento para ser feliz. É a constatação de que os elos, se não romperam totalmente, enfraqueceram com os desentendimentos e com a falta de compreensão. São idéias e modos de viver antagônicos que se chocaram ao longo da existência, fazendo a vida mais amarga e solitária.

Mas não consigo chorar... Acho que de tanto represar o pranto, as lágrimas estagnaram e os olhos não conseguem tirá-las da alma. Sei que fiz o que sabia e o que estava ao meu alcance nas horas de tormenta. Não sei se foi pouco. Não sei se poderia ter feito mais. Só sei que lutei e ainda dou de mim, para manter a paz entre os que me são caros. Sou hoje, como fui sempre, uma espécie de para-raios nas tormentas. Estive sempre no meio de dois fogos cruzados. Procurando entender os dois lados da situação. Compreendendo os motivos dos contendores. E isso foi desgastando minhas reservas.

Sei que posso e devo reagir ao abalo emocional que, como um terremoto, abala minha estrutura e me tira as forças da alma. Como das outras vezes, sei que vou conseguir. Mas, hoje dói, me faz querer chorar, me desarma. Meu Anjo vela por mim, eu o pressinto. Mas estou tão carente e solitária fisicamente, que seu calor não consegue acalentar meu ser atormentado. Ainda...

Giustina
Enviado por Giustina em 08/06/2010
Reeditado em 14/02/2014
Código do texto: T2308525
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