ACORDEI COM DOIS PÉS ESQUERDOS

Às vezes acordamos com o pé esquerdo, mas esta semana acordei com os dois pés esquerdos. Há dias que meus óculos estão empenados, estou adiando minha consulta no oftalmologista faz tempo. Dessa vez não tem como adiar mais, eles quebraram. Liguei para dois oftalmologistas, o primeiro só poderia me atender daqui a dois meses, o segundo na próxima sexta-feira às 11h, era segunda-feira. - Espero não ser parado por nenhum policial de trânsito - pensei.

Nesta semana pilotei com muito mais atenção, andei na faixa da direita e mantendo distância de todo e qualquer veículo.

Chegou a sexta-feira, fui ao especialista.

- Qual o motivo de sua consulta?

- Meus óculos quebraram.

- Ok. Aguarde só um instante.

Eram 10:50h, prefiro chegar antes do horário marcado à chegar depois. Eu só não sabia que "um instante" fosse mais que uma hora. Já passava de meio dia, alguém dormia na minha barriga, os roncos eram altissonantes.

- Ademilson?

- Sou eu.

- Me acompanhe, por favor.

Após exames o médico me orientou a usar lentes de contatos, o que eu queria, mas tinha muitas dúvidas e receio. Esclarecidas as dúvidas, fui encaminhado à secretária para efetuar a compra. Ela havia saído para almoçar. A pessoa que roncava na minha barriga já havia entrado na capital do Estado de Coma. Volto depois.

Voltei. Ela me atendeu, atendeu outros cinco ao mesmo tempo. Lá se foi meu dia. Por fim consegui sair com as lentes nos olhos, e enxergando nitidamente e, com a rapidez com que ela colocou-as em meus olhos achei que seria facílimo.

No dia seguinte, orientado por minha amada esposa, acordei às 5:30h da matina, tinha que dar aula a partir das oito horas. Lá vai eu para a via sacra. Duas horas depois consegui, por fim, colocar uma lente. Ainda não tinha tomado banho e ainda faltava o outro olho. Mais 15 minutos e consegui colocar a outra lente e tomar meu banho. Fui para o trabalho.

Até ai nada de mais, exceto por eu ter chegado atrasado e receber as reclamações dos alunos.

O problema maior foi quando senti a necessidade de ir ao banheiro.

Antes que eu percebesse já estava entronizado e o material saindo. Não quero fazer comparações, mas o material tinha a mesma aparência do doce de leite cremoso, sabe aqueles vendidos no supermercado, enlatado? - Espero que a indústria não queira me processar por fazer essa comparação mórbida.

Acabado o serviço, olhei e... - Ué! Cadê o papel? - Não tinha.

- Não tem problema -pensei- tem duchinha e na minha bolsa tem uma camisa da Giorgio Armani que ganhei da minha querida esposa, me lavo e me enxugo com ela.

- Cadê a água?

Perdi minha camisa.