O beijo na boca

Vou contar como foi o meu primeiro beijo na boca. Foi um horror. A menina não chupava a boca. Apenas fazia um estardalhaço lingual que quase me passou pela cabeça ser padre e me celibatar. Aí fiquei com uma sensação que beijo era um ritual a ser cumprido ou não tinha sentido ter namorada. E naquele tempo as namoradas nem davam pra gente e quando davam já se tinham ido mais de 4 ou 5 anos de namoro.

Mas um dia aconteceu uma coisa mágica. Estávamos nos despedindo de uma turma na porta de um restaurante que, por coincidência ficava numa rua muito mal iluminada e cheia de árvores. Quando fui dar o "beijinho" numa das amigas, ela puxou minha face e me deu um chupão na boca que mudou minha vida. Naquela idade a ereção foi tão violenta que quase rasgo a calça jeans. Ela ia movimentando a boca e enfiando e tirando a língua da minha boca, num movimento que mais parecia um tango. E eu, aprendiz, seguia os passos. Se ela fazia, eu fazia. Era uma coisa terna, mas com movimentos e aí outros sentidos foram despertando. Primeiro que era uma sugação sem parar. Daí, com a língua comecei a descobrir as delícias da mucosa, do sabor da saliva (ô coisa deliciosa) e o abraço que sustentava o beijo, de forma que os seios dela, muito dos gostosos, apertavam meu peito e aí a coisa virou um contexto. O abraço sustentava, as bocas encaixadas se mantinham unidas por sucção e a língua fazia uma relação sexual. Bissexual, aliás, porque hora ela enfiava na outra era eu que enfiava. Um troca-troca. Mas com ternura. O coração disparou, a adrenalina explodiu, a cueca melou e o resto. Quanto acabou ela disse: "Eita beijo bão!". E eu só podia ficar mudo.

Nunca mais a vi e só fui beijar de novo mais de um ano depois. Só que agora eu sabia beijar. A boca é de fato uma cavidade onde se junta uma quantidade muito grande de sujeira e bactérias, mas poucos sabem que a função da saliva é lavar a boca em tempo integral. Acordamos com mau hálito por não salivarmos durante a noite. Não o suficiente. Depois que comemos algo ou bebemos um café estimulamos as glândulas que passam a salivar o dia inteiro. Então, sendo da mesma espécie, dizer que a boca é suja é um erro, a menos que não se escove os dentes, é claro.

O beijo é o sexo que se faz vestido e, quando sem roupa pode se fazer os dois ao mesmo tempo, o que o torna ainda melhor. Salvo os gordos, como dizia o Tim Maia, que se beijar não encaixa, se encaixar não beija.

Enfim, diria que só se aprende fazendo com quem sabe e, por incrível que possa parecer, quem ainda não teve um beijo na boca estarrecedor (no bom sentido), pode ter tido o azar de não ter encontrado uma parceira ou parceiro que beija bem, o que não é uma impossiblidade, ou tem uma quantidade de preconceitos higiênicos em relação ao beijo de língua que seria o caso de debater com um terapeuta de onde pode vir isso.

Certa vez uma colega me disse que não conseguia fazer o marido gostar de sexo oral, coisa muito boa, deliciosa e recomendável, mas que pode também causar um certo asco pela proximidade da uretra e do ânus. Fato é que é "normal" se trocar fluídos superiores ou inferiores e a maioria das pessoas gostam, fazem e recomendam.

Há pessoas que não sabem beijar. Mas aí não seria o caso de não gostar de beijar, mas de aprender a beijar. Tem o pega, tem o conjunto da obra, tem todo um contexto para que a "nojeira" da saliva passe despercebida e se crie libido em vez de aflição.

Beijar na boca é muito bão!

Mais textos em www.zecaparica.com.br