O inverno da alma
Ontem passei numa rua do bairro onde moro. O frio da noite provocava a pressa de chegar e aquecer o corpo, já cansado da “luta diária”. Só queria estar num ambiente fechado e sentir o calor do cômodo e da alma. Respirei o ambiente e reparei que meu pensamento era compartilhado por muitos que apressados, seguiam também para algum lugar. Talvez uma sopa quente, acompanhada de uma bebida forte, logo depois de um banho aquecido e logo depois, a cama, forrada por um lençol macio e um cobertor que ajude a vencer o momento. Tudo isso margeado pelo calor humano de uma família.
Continuei a caminhada até que o vi.
A principio tive a impressão de ser um animal, mas ao me aproximar tomei um susto: era um homem de mais ou menos 60 anos, magro, cor escura. Ali, em plena rua, deitado, aparentemente dormindo, vestido com uma bermuda e uma camiseta. Não havia sopa quente, nem cobertor, havia sim, uma toalha de banho como único instrumento da luta contra o vento frio, agravado pela pressa do gelo da alma de cada semelhante que por ali passava.
Parei. Não tive palavras nem pensamentos. Me senti mal. Vi mais uma vez, como sou pequeno e pobre de espírito. Como sou egoísta e ridículo nos meus conceitos de vida e existência, e mais que isso, como nego a fé que declaro com palavras, conceitos e letras. Naquela rua do bairro em que moro, vi um homem, meu semelhante e meu próximo deitado num chão duro, vivendo o frio da noite. Vivi mais uma dura lição do que realmente sou sem as máscaras do discurso.
Quantas noites frias ainda vamos viver? Não sei, você também não sabe. A estação do ano independe de nós, mas o inverno da alma depende sim daquilo que posso fazer. É uma questão de querer.
E hoje pode ser diferente.
“E assim conhecerão que sois meus Discípulos, se amardes uns aos outros...” Jesus Cristo.